Inominável Ano 2 Inominável Nº5 | Page 46

Havia uma luz na escuridão do bosque; como que sabendo que ela estava perdida, como que guiando-a a fugir de um frio que ela já não sabia se vinha também de fora, ou já só de dentro. Perguntava-se, para manter a cabeça ocupada e afastada de pensamentos mais sombrios, se um oásis poderia também ser uma fonte de luz e de calor no meio da escuridão gelada. Se todas a alucinações não seriam, afinal, todas elas um qualquer oásis impossível de alcançar. Custava-lhe acreditar que aquilo fosse fruto da sua imaginação, no entanto, mas como explicar uma bola incandescente a pairar no ar? A princípio julgara ser uma fogueira, mas as fogueiras não se movem assim, não se movem de todo. As fogueiras têm raiz e, se se espalham, a raiz fica sempre em qualquer parte da terra e não em círculos, baloiçando acima do chão. Também as estrelas cadentes aterram a certa altura. Aquele fogo não era algo que ela tivesse já visto. Ainda assim, caminhou ao seu encontro.

O fogo, o fogo que ela via a rodar, incandescente, pairando aqui e ali, era afinal palpável, tal como era o calor que deste emanava. Ela sentiu-o ao aproximar-se, um calor maior do que seria esperado provir daquela pequena esfera. A mulher que o controlava olhou-a, os seus olhos como duas poças escuras, indecifráveis. Não pareceu estranhar a sua presença, mas também não fez nenhum trejeito que a fizesse adivinhar tê-la reconhecido.

Ela suspirou, alívio a passar-lhe pelo rosto; pensara estar perdida, afinal não estava. Não soubera ao certo com o que contar, seguira apenas as instruções que lhe tinham dado mas, agora, a mulher na escuridão, a esfera de fogo levitando, tudo fazia sentido. Faltava-lhe ainda acomodar todas as peças de um quebra-cabeças que vinha a tentar decifrar há anos, mas estava no bom caminho.

A mulher olhou-a, aceitou o papel que ela lhe deu e leu-o com atenção ajustando o fogo à altura do papel que segurava. Fitou-a de novo, longamente.

- Segue-me. – disse depois, resoluta. A bola de fogo desapareceu dentro do seu casaco de pele, escuro como a noite que agora atravessavam. Ela seguiu a mulher, um pequeno aceno com a cabeça sem ter a certeza de que a mulher o tivesse visto, mas esta não parecia duvidar que ela fizesse exactamente o que lhe fora pedido, e caminhou ainda mais para o interior do bosque, sem esperar.

Escarlate, fora o nome que lhe tinham dado. O da mulher, viria a saber dias depois. Escarlate respirou fundo e, depois de uma leve hesitação, mergulhou também nas trevas.

fogo

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