Inominável - Ano 2 Inominável Nº10 | Page 38

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Estais confusos, certamente. Comecei por falar de uma coisa, depois fui para outra e ninguém se entende neste texto todo. Permiti-me agora apontar para o elo que dá uma sombra de consistência a este artigo.

Sabereis indubitavelmente que em todos os campos de actividade humana acaba sempre por haver um conjunto de indivíduos mais conhecidos no seu campo. Todos os cinéfilos saberão quem é o George Lucas. Todos os musicomaníacos saberão quem é o Phil Collins. Todos os diletantes de literatura saberão quem é o José Saramago.

Estes últimos exemplos que explicitei não foram escolhidos ao acaso. Têm todos algo em comum: são louvados e odiados em igual medida. São considerados bestas e bestiais. Yin e yang. Preto e branco.

No mundo dos videojogos apenas consigo pensar num único homem que seja tão ambivalente na opinião pública sobre si: Peter Molyneux.

Este senhor estava destinado a ter problemas, nem que seja pelo nome, já que não há nada mais preto e branco do que um inglês com nome francês. Este empresário/programador/designer é conhecido por ter produzido jogos absolutamente inovadores (como é o caso do Black & White previamente referido; como vedes, este texto não é assim tão desconexo). Em alguns casos, pode até dizer-se que foi pioneiro.

Contudo, como qualquer bom desenvolvedor de videojogos, ele descompensa o seu discutível talento no departamento de relações públicas. Ele é infame por prometer mecânicas de jogo tecnicamente ou logisticamente impossíveis que depois não aparecem no produto final. Ora, nos dias de hoje, os jogadores estão habituados a serem mentidos pela indústria dos videojogos no geral, mas há 10-15 anos isso não acontecia tanto. O problema essencial é que o próprio Molyneux acreditava no que prometia e por isso não lhe parecia estranho estar a dizer em entrevistas que no videojogo X podemos fazer "TUDO" (o que nunca acabava por acontecer por constrangimentos de produção, nomeadamente o suicídio metafórico dos seus trabalhadores ao ouvir as ambições irrealistas dele).

A Internet e os videojogos são mundos simbióticos e as afirmações e resultados sobre os produtos de Molyneux causam os monstros venenosos que habitam os planos virtuais a atacar sem misericórdia este visionário. Chamo-lhe visionário porque eu aprecio o seu esforço consciente e ingénuo de construir um produto ambicioso e inovador. No caso de Molyneux, os verdadeiros culpados da sua má fama são os próprios consumidores, que acreditam candidamente nas afirmações fantasiosas dele, quando na verdade já deveriam ter cautela.

Tanto quanto sei, Molyneux ainda está activo a experimentar disparates que poderão vir a ser um jogo revolucionário, provavelmente com a temática típica dos jogos dele de Moralidade, das escolhas do jogador, do Bem contra o Mal, em que nada é certo ou errado; apenas preto ou branco.