118
Quando Sora chegou a casa, Ignis estava sentada à mesa da cozinha, os dois papéis abertos sobre o tampo. Sora olhou-a.
- Tudo bem? – perguntou, tirando o casaco e as luvas.
Ignis não respondeu. Mostrou-lhe os papéis.
- Eu encontrei este em casa da Escarlate, caiu de um livro.
Sora aproximou-se para ver melhor e depois olhou para Ignis, de mãos a tremer.
Já lhe devia ter contado. Já lhe devia ter dito a verdade, em vez de esperar que fosse a melhor altura para lhe contar, porque em quase dezoito anos não tinha havido nunca uma melhor altura. Sentou-se, virada de frente para Ignis.
- Eu não sou tua mãe. – disse-lhe, bruta e directa, porque não sabia como lhe dizer isto de outra forma.
Ignis fitou-a; encostou-se contra a cadeira, como se quisesse afastar-se dali. Não tinha a certeza de querer fazer mais perguntas. De querer saber, ponto final. Quando é que a vida que conhecemos se transforma de repente numa mentira?