Inominável - Ano 2 Inominável Nº10 | Page 114

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A vida em Aperos prosseguia, sem que houvesse suspeitas de que em casa de Escarlate um estranho passava os dias.

Ignis ouvira o tutor toda a manhã como se ele fosse uma estação de rádio mal sintonizada; felizmente, ninguém notara o seu ar distraído, e durante a tarde as aulas eram práticas.

Aprendiam todo o tipo de trabalhos manuais, aprendiam a conhecer máquinas, mesmo aquelas que não se viam a circular em Aperos. Ali não havia trabalhos fixos, toda a gente ajudava no que fosse preciso e de acordo com o que sabiam fazer melhor. Então, todos aprendiam um pouco de tudo.

Os dois certificados de nascimento tinham sido guardados separadamente: um continuava na antiga caixa de recordações; o outro fora espalmado dentro de um livro, na estante do seu quarto. Não tinha ainda tido coragem de perguntar a Sora o que aquilo significava. Por um lado, tinha medo da resposta. Por outro, analisara os dois papéis lado a lado vezes sem conta e não conseguia atribuir-lhes uma lógica.

Talvez Miguel a pudesse ajudar. Afinal, ele era de lá de baixo e o hospital onde ela nascera tinha de ser de lá de baixo. Não era da aldeia, isso era uma certeza.

O problema era conseguir estar sozinha com Miguel.

Felizmente, dois dias mais tarde Sora e Escarlate iriam partilhar uma das guardas diurnas de Aperos. Sora levava a chave de casa de Escarlate sempre com ela, mas Miguel estava lá. Ignis só tinha de encontrar forma de ele a deixar entrar depois de Sora e Escarlate saírem de casa. Dali a nada Miguel ia embora e depois ela não teria mais ninguém a quem perguntar.

Passar-lhe o recado, escrito num papel, fora arriscado. E se ele contasse a Escarlate? O que é que ela e a sua guardiã iriam pensar? Mas, para o bem ou para o mal, Miguel parecera alinhar no secretismo. Quando Ignis bateu três vezes à porta, esta abriu-se de par em par, o suficiente para a deixar entrar.

revelação