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Quadros brancos

Embora um dos primeiros pintores a ser especificamente associado ao Minimalismo tenha sido Frank Stella (com os seus “BlackPaintings” de 1958-1960), Wollheim considerou que as raízes desta corrente vêm de mais longe, de obras que possuem um grau mínimo de capacidade artística (“artistry”), como o “Urinol” de Marcel Duchamp e os “White Paintings” de Robert Rauschenberg.

No Outono de 1951, no Black Mountain College (Carolina do Norte), Robert Rauschenberg pintou uma série de cinco quadros completamente brancos, onde apenas se notavam ligeiras marcas dos rolos usados para a pintura. Cada um destes trabalhos era constituído por um número diferente de painéis – um, dois, três, quatro e sete. Em cada quadro, os painéis tinham um mesmo tamanho e eram proporcionalmente equilibrados. Com estas obras, a intenção do artista foi a de criar quadros que parecessem não ter saído da mão humana, como se tivessem chegado ao mundo já completamente formados e absolutamente puros.

Além disso, Rauschenberg estava particularmente interessado na forma como as superfícies imaculadas dos seus quadros iriam reflectir a luz e as sombras do ambiente onde se encontrassem – como se fossem uma espécie de registo dos acontecimentos que ocorreriam no espaço em seu redor. O artista chegou mesmo a compará-los a relógios, dizendo que se formos suficientemente sensíveis às mudanças subtis nas suas superfícies, seremos capazes de saber que horas são e como é que está o tempo lá fora.

Esta série de quadros só teve a sua primeira aparição pública no próprio Black Mountain College no Verão de 1952, sendo depois expostos na StableGallery de Nova Iorque em Setembro de 1953. Simplesmente ignorados ou mal recebidos pela crítica, a ausência de qualquer marca do seu criador nos “White Paintings” fez com que fossem considerados como totalmente irrelevantes para a cultura humana e a sua história – e nenhum crítico se preocupou na altura em encontrar um enquadramento que permitisse compreender ou interpretar estas obras de arte, havendo até quem as classificasse de intrujice barata.

Outro aspecto radical destes quadros foi o facto de terem sido concebidos como “reutilizáveis” e “reexecutáveis”. De facto, em virtude da conhecida falta de

Nº 10 - Outubro 2017