Informativo ABECO Informativo No 9 (mai-ago 2017) | Page 3

Informativo da Associa o Brasileira de Ci ncia Ecol gica e Conserva o N mero 09 – Maio a Agosto de 2017 PERFIL DO ECÓLOGO A formação de um Ecólogo de Primeira Geração no Brasil por Thomas Michel Lewinshon Professor Titular da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Pertenço ao primeiro grupo de ecólogos que realizou sua formação profissional – mestrado e doutorado – no Brasil. Cursei Biologia na UFRJ, mas interrompi o curso por quase três anos, em que trabalhei como fotógrafo e também viajei pela América do Sul. Em 1973, assis= em Caracas a um simpósio de Ecologia Tropical (onde conheci pesquisadores como Daniel Janzen, Harald Sioli, Frank Golley) seguido por um curso de Biologia Evolu=va com O_o Solbrig, de Harvard, na Universidad de Los Andes. Isso selou minha opção pela Ecologia. Em 1974, Woodruff (“Woody”) Benson, então pesquisador do CPPN na UFRJ, deu um curso de Ecologia Teórica, com temas que eu =nha conhecido na Venezuela. Sabendo que Benson seria um dos professores, em 1976 rumei para a Unicamp para o novo Mestrado em Ecologia. O Mestrado foi profundamente formador, especialmente pelos dois cursos de campo obrigatórios: um na Amazônia, composto por projetos em grupo e individuais. Esse formato é a base de cursos de campo atuais na Unicamp e em outros programas de Ecologia. No curso de campo no cerrado, aprendi a fazer inventários florís=cos e, graças a Hermógenes Leitão Filho, ganhei paixão pelo cerrado e campos rupestres. Nesses cursos de campo, ins=gado por um ar=go de Daniel Janzen, comecei a estudar os predadores de sementes de jatobás, cujas interações se mostraram muito complexas. Em 1977, pude estudar o mesmo sistema na Costa Rica, como assistente de campo de Janzen. Defendi o mestrado em 1980, comparando espécies e interações em cerrado, matas ciliares, e matas da Amazônia. Em seguida fui contratado na Unicamp. No doutorado, outro curso de campo e um simpósio - ambos no Arizona, em 1984 - foram definidores. Projetos com Peter Price e Howard Cornell, além de conversas com Rob Colwell e John Lawton, ajudaram a conceber o problema e selecionar um sistema de plantas e herbívoros para inves=gar a organização de interações ecológicas em diferentes escalas. Assim, antes de se falar em biodiversidade e em diversidade beta, desde os anos 1980 estes eram meus temas de pesquisa. Defendi o doutorado na Unicamp em 1988 e, de 1990 a 1992, fiz pós-doutorado com Lawton no Centre for Popula=on Biology na Inglaterra. Ali, como depois no NCEAS na California, =ve a sorte de trabalhar em centros recém-criados, onde havia um incessante movimento de pesquisa, pessoas e ideias. Falta espaço para citar muitas outras pessoas e lugares que me influenciam até hoje. Minha formação resulta dessa vivência pioneira no Brasil, quando professores e alunos estavam criando uma pós-graduação e aprendendo a orientar e pesquisar; dos cursos de campo aqui e no exterior, oportunidades excepcionais para ganhar experiência; e dos períodos de pesquisa em centros de excelência e inovação ecológica. Outros interesses - história e filosofia da ciência, fotografia, música, literatura – são parte integral de minha formação e, de alguma forma, todos amalgamados em minhas opções de pesquisa e atuação e nos modos de ensinar e orientar.