Informativo ABECO Informativo No 4&5 (jan-mar e abr-jun 2016) | Page 4

Informativo da Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação Números 04 e 05 – Janeiro a Junho de 2016 PERFIL DO ECÓLOGO MINHA HISTÓRIA DE PESQUISA NA AMAZÔNIA por MARIA TERESA FERNANDEZ PIEDADE Ins4tuto Nacional de Pesquisas Amazônicas - INPA Sempre gostei de plantas. Filha de pescadores faná4cos, minha infância foi pontuada com viagens ao litoral de São Paulo; enquanto meus pais pescavam, meu irmão e eu explorávamos as algas ba4das pelas ondas, as res4ngas escaldantes e a úmida Mata Atlân4ca. Como essas plantas cresciam ali? Que animais as visitavam? Estava decidido: estudaria plantas litorâneas! Mas a vida 4nha outros planos. Fui aprovada no Cecem, que selecionava alunos para as áreas médicas e biológicas, indo cursar Ciências Biológicas na primeira turma da UFSCar, entre 1972 e 1975. O mar ficou longe, mas não o Broa.... Minha primeira incursão em pesquisa foi um estágio com o Professor Adalberto Toledo, determinando os açúcares no plâncton daquela represa. Também em São Carlos casei e 4ve meu filho. No final da graduação, a pesquisa era o desejo, mas a necessidade de trabalho a prioridade. Fui lecionar biologia. Então, a novcia de que o Professor Warwick Kerr dirigia o INPA/Manaus agregando um excelente grupo de cien4stas se espalhou. Inúmeros jovens queriam fazer parte disso - eu também, e em 1976 fiz minha primeira viagem a Manaus para uma entrevista com o Dr. Kerr. A visita foi ó4ma, mas os recursos para o projeto no qual eu atuaria não saíram. Contudo, a Amazônia con4nuava sendo a meta, e em 1977, ao saber da busca de professores pela Universidade Federal do Acre, meu marido e eu nos candidatamos e fomos contratados. A chegada em Rio Branco marcou o início de meu contato profissional como ecóloga na Amazônia. Tudo tão diferente! O clima, as comidas, o ambiente... Que desafio! Man4ve vínculo de 11 anos com a UFAC, ministrando disciplinas no curso de Ciências Biológicas, desde a primeira turma. Com os jovens professores da UFAC estruturei o embrião do Projeto Parque Zoobotânico daquela IES, que perdura até hoje. Fiz amigos, formei pessoas e guardo essa experiência com imenso carinho e gra4dão. Conclui o mestrado em Ecologia no INPA em 1985 e, durante ele, finalmente pude estudar as plantas superiores das margens do Rio Negro e suas interações com peixes. Foi quando conheci os trabalhos precursores sobre áreas alagáveis do Professor Wolfgang Junk, anteriores ao Conceito do Pulso de Inundação (Junk et al., 1989). O Professor Junk orientou meu Doutorado, concluído em 1988, tratando da produ4vidade e ecofisiologia de uma gramínea da várzea amazônica. Nesse mesmo ano fui contratada pelo INPA, onde, com muita sa4sfação, trabalho até hoje. Ao longo desses anos no INPA pude construir múl4plas interações nacionais e internacionais. Coordeno a cooperação Brasil-Alemanha (INPA-Ins4tuto Max-Planck) em estudos de Áreas Alagáveis há quase 30 anos. Con4nuo trabalhando com os colaboradores de longa data e também com colaboradores recentes. Coordeno um GP/CNPq, GP-MAUA (“Ecologia, monitoramento e uso sustentável de áreas úmidas”), que conta com cerca de 50 par4cipantes, e o PELD-MAUA, a ele associado. Essas ações permi4ram o ganho que considero mais importante, que foi orientar mais de 100 alunos em diversos níveis. A constante renovação pela interação com os jovens cien4stas é um bônus e traz a esperança de um futuro melhor para os ecossistemas brasileiros. Neste período de trabalho muito prazeroso e árduo, percorri grande parte da fascinante Amazônia. Quanto mais conheci, mais evidente ficou que trabalhos de síntese e em equipe são fundamentais, especialmente frente aos desafios e distâncias amazônicas. As áreas úmidas, meu principal foco de trabalho, ganharam maior visibilidade nos úl4mos anos, mas sua destruição e uso inadequado também. A redução da proteção das florestas marginais no novo Código Florestal, o aterro e a transformação em lixões são alguns exemplos. A Amazônia é imensa, assim como sua biodiversidade. Quase 30% correspondem a áreas úmidas. Estamos usando de forma parcimoniosa seus recursos e gerindo adequadamente esse patrimônio? Esse é nosso desafio. Cada um fazendo sua parte, mesmo que pequena pode contribuir para isso. GRUPO MAUA: hap://maua.inpa.gov.br/ PELD MAUA: haps://peld-maua.inpa.gov.br/