Informativo ABECO Informativo No 13 (set-dez 2018) | Page 25

INFORMATIVO ABECO | Edição Nº 13 25 talvez usar melhor todos esses canais. E isso nos leva a um ponto que considero fundamental nessa discussão sobre a comunicação, que tenho chamado de “paradoxo da divulgação cientifica”. Nós vivemos, para utilizar a expressão de Carl Sagan, em uma “civilização tecnológica”. Ou seja, tudo que nos cerca hoje, direta ou indiretamente, é produto da ciência e da tecnologia, e de fato desenvolveu-se a partir da revolução científica e industrial dos séculos XVIII e XIX. Além disso, dentro do contexto moderno de comunicação e difusão da informação, a ciência está presente a todo momento nas diferentes mídias. Nunca houve tanto acesso à informação científica em tempo real e de forma tão adequada, em termos de linguagem e apelo visual e aos sentidos. A série “Cosmos” de Carl Sagan, lançada em 1980, foi considerada revolucionário à época, mas é hoje lugar comum (apesar de sua indiscutível qualidade) e podemos encontrar centenas de documentários de alta qualidade sobre qualquer assunto científico em uma busca rápida no YouTube. Mas, se é assim, é paradoxal que encontremos, ao mesmo tempo, discussões sobre criacionismo, Terra plana, OVNIs, cristais mágicos, e deuses-astronautas, mesmo entre pessoas esclarecidas e com alto grau de instrução. É como se continuássemos na Idade Média, uma sociedade dominada por crenças e superstições, envolta no misticismo, mas ao mesmo tempo utilizando “smartphones” conectados à internet e se deslocando pelas cidades em carros sofisticados guiados por um sistema global de navegação por satélite. Como dizia o futurólogo e escritor de ficção científica Arthur Clarke, parece que realmente “qualquer forma suficientemente avançada de ciência pode ser entendida como magia...”, em uma sociedade ignorante. As pessoas utilizam e se beneficiam o tempo todo dos produtos da C&T, mas não compreendem sua origem e, por isso, se voltam a uma visão de mundo simplista e imediatista do mundo, guiadas puramente pelas percepções dos seus sentidos biológicos e instintos mais profundos. Há uma desconexão entre a realidade e a prática de C&T. Além disso, estamos em tempos de “pós- verdade”, que foi considerada como a palavra do ano, em 2016, do “Oxford Dictionaries”. As pessoas acham que possuem o direito de concordar ou não com uma teoria científica, de aceitar ou não uma evidência, mesmo que