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INFORMATIVO ABECO | Edição Nº 13
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talvez usar melhor todos
esses canais. E isso nos
leva a um ponto que
considero fundamental
nessa discussão sobre a
comunicação, que tenho
chamado de “paradoxo
da divulgação cientifica”.
Nós vivemos, para utilizar
a expressão de Carl
Sagan,
em
uma
“civilização tecnológica”.
Ou seja, tudo que nos
cerca hoje, direta ou
indiretamente, é produto
da
ciência
e
da
tecnologia, e de fato
desenvolveu-se a partir
da revolução científica e
industrial dos séculos
XVIII e XIX. Além disso,
dentro do contexto
moderno de comunicação
e difusão da informação,
a ciência está presente a
todo momento nas
diferentes mídias. Nunca
houve tanto acesso à
informação científica em
tempo real e de forma tão
adequada, em termos de
linguagem e apelo visual
e aos sentidos. A série
“Cosmos” de Carl Sagan,
lançada em 1980, foi
considerada
revolucionário à época,
mas é hoje lugar comum
(apesar
de
sua
indiscutível qualidade) e
podemos
encontrar
centenas
de
documentários de alta
qualidade sobre qualquer
assunto científico em
uma busca rápida no
YouTube. Mas, se é
assim, é paradoxal que
encontremos, ao mesmo
tempo, discussões sobre
criacionismo, Terra plana,
OVNIs, cristais mágicos, e
deuses-astronautas,
mesmo entre pessoas
esclarecidas e com alto
grau de instrução. É como
se continuássemos na
Idade
Média,
uma
sociedade dominada por
crenças e superstições,
envolta no misticismo,
mas ao mesmo tempo
utilizando “smartphones”
conectados à internet e
se deslocando pelas
cidades
em
carros
sofisticados guiados por
um sistema global de
navegação por satélite.
Como dizia o futurólogo e
escritor
de
ficção
científica Arthur Clarke,
parece que realmente
“qualquer
forma
suficientemente
avançada de ciência pode
ser entendida como
magia...”,
em
uma
sociedade ignorante. As
pessoas utilizam e se
beneficiam o tempo todo
dos produtos da C&T,
mas não compreendem
sua origem e, por isso, se
voltam a uma visão de
mundo
simplista
e
imediatista do mundo,
guiadas puramente pelas
percepções dos seus
sentidos biológicos e
instintos mais profundos.
Há uma desconexão entre
a realidade e a prática de
C&T.
Além disso, estamos em
tempos
de
“pós-
verdade”,
que
foi
considerada como a
palavra do ano, em 2016,
do “Oxford Dictionaries”.
As pessoas acham que
possuem o direito de
concordar ou não com
uma teoria científica, de
aceitar ou não uma
evidência, mesmo que