Informativo ABECO Informativo No 11 (jan-abr 2018) | Page 11

INFORMATIVO ABECO | Edição Nº 11 11 OPINIÃO Ser ecóloga e mulher no Brasil: uma trilha com muitos obstáculos por Márcia C. M. Marques Professora Associada da Universidade Federal do Paraná – UFPR No dia 8 de março é celebrado, mundialmente, o Dia da Mulher, um bom momento para refletir o espaço ocupado pelas mulheres na ciência ecológica. Acompanhando um reaquecimento do movimento feminista que ocorreu nos últimos cinco anos em diversos setores da sociedade, também houve uma proliferação de discussões, virtuais e físicas, grupos de estudos, colóquios, palestras e outros eventos que trouxeram a temática para os espaços acadêmicos. De início, visto com desconfiança, estes movimentos foram, aos poucos, atraindo militantes, mulheres e homens, resultando em mudanças de posturas em alguns segmentos das universidades, das sociedades científicas e de outros espaços acadêmicos. Várias femininas conquistas na ciência começaram a aparecer nestes últimos anos, certamente fortalecidas pelo movimento feminista na ciência. Por exemplo, um estudo sobre gêneros na ciência, recentemente realizado pela prestigiosa editora científica Elsevier, revelou que o Brasil é o líder mundial na equidade de gêneros no número de autores de artigos científicos. Além disso, várias cientistas brasileiras receberam prêmios internacionais, outras despontaram com sua atuação em segmentos específicos da ciência, alcançando destaque na mídia e nos círculos acadêmicos. Ou seja, mulheres cientistas hoje são vistas e respeitadas, certo? Minha resposta é: errado. Talvez a história ainda não seja tão cor-de-rosa assim. Uma busca rápida pelos registros oficiais das agências de ciência, tecnologia e educação no Brasil e algumas publicações científicas que se debruçaram sobre isso, nos revela alguns dados intrigantes. As mulheres são maioria nos cursos de graduação e nas pós- graduações, especialmente na área biológica, onde chegam a representar até mais de 55%. Considerando as mulheres que seguiram na academia, elas também predominam nos postos da maioria das universidades. No entanto, quando olhamos alguns setores mais privilegiados da academia, os números são outros. Por exemplo, uma das palestras de nossa última reunião da ABECO mostrou que a proporção de mulheres e homens orientadores em cursos de pós-graduação em Ecologia, em geral, pesa para o lado masculino. Entre os