Por outro lado, a concepção gerencial passa a incorporar
não apenas a gestão dos serviços financiados com recursos
públicos, mas também a prestação de serviços pelas empresas
privadas e iniciativas sociais. A justificativa desta incorporação
se deu a partir do argumento de que o governo teve seu peso
relativo diminuído, dadas as limitações do crescimento do gasto
público para atender às necessidades sociais. Na etapa gerencial, não apenas se considera a necessidade de incorporar novos
atores sociais, e em especial as empresas, mas também prospera a ideia de que o governo deve imitar o modelo de gestão
empresarial. Em última instância, o objetivo era dar maior
destaque aos empresários e às empresas, tanto na gestão e
prestação de serviços como na iniciativa social, como forma de
suplementar a ação de governo, que somente se entendia como
prestador de serviços.
A adoção do modo gerencial no paradigma de governo
provedor e gestor, no entanto, tinha igualmente uma justificativa ética baseada na necessidade de se evitar o desperdício do
dinheiro público e, sobretudo, de criar mais infraestrutura e
serviços com uma despesa pública que se constatava não poder
crescer indefinidamente.
A extensão dos três “E” para toda e qualquer ação governamental, como uma cópia dos métodos empresariais das multinacionais, aliada ao fato de se enxergar o cidadão como um
mero cliente ou usuário, em muitos casos, levou à desconsideração do conceito de serviço público e ao questionamento das
garantias legais e do respeito pelos direitos que a ação do
governo deve proporcionar, o que tem acontecido em muitos
governos, e não apenas na América Latina.
Neste caso, não apenas a prestação e gestão de benefícios e serviços eram considerados dominantes, mas toda a
ação de governo. Considerava-se que o modo de governar
deveria corresponder aos valores empresariais da gestão de
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Governança Democrática: Construção coletiva do desenvolvimento das cidades