Governança Democrática - 3ª Edição | Page 92

Efetivamente, Max Weber (que, sem dúvida, foi quem melhor caracterizou o modelo racional-legal, ou modo burocrático de dominação), considerava que a burocracia era também um modo de gerir os serviços e não apenas de garantir a legalidade, a independência e a estabilidade do governo. Porém, era bastante consciente das limitações de uma gerência ampla dos serviços por este tipo de gestão. Neste sentido, Giddens13 nos recorda que o principal argumento de Weber – contrário ao socialismo – era que este significaria uma grande burocratização do Estado e, em particular, do governo, que acabaria levando à ineficiência na gestão e à autonomia da burocracia como grupo de poder, que faria o governo funcionar em função de seus interesses e de grupos particulares, como efetivamente ocorreu. De fato, a gestão de recursos e serviços públicos exige economia, eficácia e eficiência (os denominados três “E”), que, como já observado, não são valores próprios da burocracia, nem garantidores de sua proteção como grupo profissional. A gestão burocrática aplicada à gestão de serviços foi e é altamente ineficiente, provocou e ainda provoca significativas deseconomias que devem ser sustentadas com mais carga fiscal para os cidadãos e, pior ainda, limita o alcance dos serviços públicos. O paradigma do governo gestor, ao desenvolver-se com o modo burocrático, trouxe com ele a necessidade de reforma permanente, desde o seu começo, para torná-lo mais eficiente. Entretanto, os distintos instrumentos de reforma – descentralização, centros de controle, orçamentos-programas etc. – inscreveram-se no modo burocrático e no tipo de gestão que o caracteriza – a gestão de procedimentos. 13 GIDDENS, A. Política y Sociología en Max Weber. Madrid: Alianza, 1976, p. 76-82. 90 Governança Democrática: Construção coletiva do desenvolvimento das cidades