Governança Democrática - 3ª Edição | Page 42

Os governos municipais encontram-se em uma encruzilhada como consequência da crise que vivemos hoje, cuja natureza é estrutural e societária. A encruzilhada consiste em que nem as necessidades sociais dos mais amplos setores da cidade, agravadas por políticas macroeconômicas equivocadas para gerir a crise financeira e econômica, nem os desafios futuros que emergem como consequência da nova questão urbana podem ser enfrentados do mesmo modo que tem caracterizado a atuação dos governos locais nas últimas décadas. É necessária tanto uma renovação dos conteúdos das políticas públicas como, sobretudo, uma nova concepção das políticas públicas e do papel das prefeituras em sua dupla expressão de responsabilidade política e de administração da cidade. As cidades precisam responder à crise tendo em conta os novos temas da questão urbana para poder oferecer perspectivas de futuro à cidadania, como a reordenação do espaço urbano em consequência da inserção das cidades em macrorregiões, os novos processos de reprodução social próprios da sociedade do conhecimento, a nova configuração da população urbana na era info-global, os processos de individualização e reorganização do sistema sócio-familiar, a incapacidade tanto do tradicional Estado de Bem-Estar como do mercado para satisfazer as necessidades sociais etc. Não foram os governos locais e urbanos que provocaram a crise, mas eles são chave para a sua solução. Como a crise é societária e afeta a configuração das relações sociais – entre pessoas, atores urbanos e instituições – ela é produzida nas cidades, onde vive a grande maioria da população. E as cidades se definem justamente pela densidade de suas relações e interações sociais. Portanto, os governos de proximidade são cruciais para influir nesta reconfiguração das relações de interdependência entre os atores e setores sociais que têm protagonismo no presente e no futuro da cidade. 40 Governança Democrática: Construção coletiva do desenvolvimento das cidades