Entenderemos por perfil político a soma integral de habilidades ou aptidões, atributos e valores mais importantes para
que uma pessoa, ou um coletivo político eleito, possa exercer
de maneira mais adequada a liderança representativa em um
governo relacional.
Os valores que sustentam a liderança representativa
Os valores próprios da liderança representativa na governança são aqueles da discussão relacional, dos valores e das
atitudes que favorecem, segundo Popper, o desenvolvimento
científico.1 Estes são a liberdade em todas as suas facetas e,
muito especialmente, a liberdade de informação, a circulação e
o debate de ideias, a tolerância e o respeito ao outro, a suas
opiniões e crenças, a humildade frente a suas próprias ideias, ou
seja, os valores das sociedades abertas.
A governança democrática precisa dispor de técnicas para
poder desenvolver-se. Porém, necessita mais ainda de valores e
virtudes, ou de atitudes dos políticos para dar impulsão à sua
potencialidade.
Neste sentido, Ortega y Gasset mostrou como o sentido e a
própria causa da técnica se encontra fora dela, a saber: no
emprego que o homem dá a suas energias latentes e liberadas
pela técnica; e observou para a sua época que as crises nos
desejos, ideias e valores são a razão pela qual toda potencialidade da técnica não tenha servido para nada.2
Hoje, há também uma crise de valores, como nas primeiras
décadas do século passado. Em especial, ressalta um questionamento generalizado dos políticos e dos valores éticos que devem
presidir a atuação da denominada classe política democrática.
1 POPPER, K. La sociedad abierta y sus enemigos. Barcelona: Paidós, 2006.
2 Ver ORTEGA I GASSET, J. Meditación sobre la técnica y otros ensayos. Madrid:
Revista de Occidente, Alianza, 2002, p. 53-55.
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Governança Democrática: Construção coletiva do desenvolvimento das cidades