Governança Democrática - 3ª Edição | Page 182

como inimigos todos os que se beneficiavam das antigas. E aqueles que as novas leis favoreçam serão apenas apáticos defensores das mesmas.5 As razões da tibieza, segundo Maquiavel, são o medo em relação aos adversários que tinham uma situação de privilégio anterior, e o fato de que a confiança na inovação, nos novos projetos, só se adquire realmente ao ser comprovado que funciona. No século XXI, em uma democracia consolidada, a segunda explicação é, sem dúvida, a mais relevante. O certo é que, ante novas políticas e projetos, o que se visualiza por parte do cidadão (via os meios de comunicação interessados, alguns em ressaltar as más notícias, ou por ocupação de espaços públicos por meio de manifestações e outros atos) são os setores que se opõem, os que estão em desacordo com a implementação dos projetos. Os que estão de acordo, na melhor hipótese, desaparecem no meio da maioria silenciosa. Por outro lado, em muitas propostas de participação, estas aparecem como “a plenária dos não eleitos”, isto é, o lugar de expressão das demandas e das queixas daqueles que não têm representação eleitoral, que têm pouca influência nas decisões políticas. Este espaço, sem dúvida de grande interesse do ponto de vista democrático, não pode ser considerado o espaço de participação do conjunto da cidadania, porque simplesmente não é. No mesmo sentido, muitas vezes a participação cidadã é apenas o espaço em que se manifestam os setores descontentes. A construção do interesse geral em cada política setorial, em cada projeto, significa que é preciso entender os espaços de participação e de deliberação cidadãs de maneira ampla e muito flexível, tal como vamos expor nos capítulos seguintes. De modo que, efetivamente, sejam visíveis os acordos sociais, que se visualizem de maneira clara os setores que deles se bene5 MAQUIAVEL, Nicolau. El Príncipe. Barcelona: Veron, 1974. p. 24. 180 Governança Democrática: Construção coletiva do desenv