como inimigos todos os que se beneficiavam das antigas. E aqueles
que as novas leis favoreçam serão apenas apáticos defensores das
mesmas.5 As razões da tibieza, segundo Maquiavel, são o medo
em relação aos adversários que tinham uma situação de privilégio anterior, e o fato de que a confiança na inovação, nos
novos projetos, só se adquire realmente ao ser comprovado que
funciona. No século XXI, em uma democracia consolidada, a
segunda explicação é, sem dúvida, a mais relevante.
O certo é que, ante novas políticas e projetos, o que se
visualiza por parte do cidadão (via os meios de comunicação
interessados, alguns em ressaltar as más notícias, ou por
ocupação de espaços públicos por meio de manifestações e
outros atos) são os setores que se opõem, os que estão em
desacordo com a implementação dos projetos. Os que estão
de acordo, na melhor hipótese, desaparecem no meio da
maioria silenciosa.
Por outro lado, em muitas propostas de participação, estas
aparecem como “a plenária dos não eleitos”, isto é, o lugar de
expressão das demandas e das queixas daqueles que não têm
representação eleitoral, que têm pouca influência nas decisões
políticas. Este espaço, sem dúvida de grande interesse do
ponto de vista democrático, não pode ser considerado o
espaço de participação do conjunto da cidadania, porque
simplesmente não é. No mesmo sentido, muitas vezes a participação cidadã é apenas o espaço em que se manifestam os
setores descontentes.
A construção do interesse geral em cada política setorial, em
cada projeto, significa que é preciso entender os espaços de
participação e de deliberação cidadãs de maneira ampla e
muito flexível, tal como vamos expor nos capítulos seguintes.
De modo que, efetivamente, sejam visíveis os acordos sociais,
que se visualizem de maneira clara os setores que deles se bene5 MAQUIAVEL, Nicolau. El Príncipe. Barcelona: Veron, 1974. p. 24.
180
Governança Democrática: Construção coletiva do desenv