Este novo papel muda, naturalmente, a concepção que se
tem do poder. Se por poder se entende a imposição da própria
vontade aos demais, seja por meio da lei e da força ou de condicionantes produzidos pelos recursos públicos, a governança
significará, sem dúvida, uma perda de poder. Em troca, se este
é entendido como a capacidade de fazer valer ou realizar os
próprios interesses, o poder dos atores sociais e do governo fica
reforçado,2 o deste último em especial, por sua liderança na
construção do interesse geral a partir dos interesses legítimos e
pela renovada relevância social dos políticos eleitos, que
melhora e legitima o “papel” do político na sociedade.
A liderança representativa é relacional
Vimos que a liderança representativa necessária à governança é relacional; ela busca fortalecer as densidades de interação dos distintos atores. Não procura substituir a sociedade
com a sua liderança e torná-la dependente de suas propostas e
planos de ação.
O interesse do líder relacional será influir nas pessoas para
que estas enfrentem seus problemas. Em lugar de oferecer soluções, levantam questões e, mais que solucionar conflitos, sua
principal missão é propor desafios coletivos.
Já foi dito que a liderança relacional constrói propostas
compartilhadas a partir da identificação de interesses, e não
aspira a proporcionar programas eleitorais para agradar a um
eleitorado passivo, que elege entre produtos em um mercado
no qual não intervém como produtor. Uma oferta de produtos
que não se baseie no conhecimento profundo dos interesses,
necessidades e desejos da cidadania, converte a dinâmica política em crescimento desmesurado e impossível de propostas
2 Ver GALBRAITH, J. K. La anatomia del poder. Barcelona: Plaza y Janés, 1984, p.
45-61.
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Governança Democrática: Construção coletiva do desenvolvimento das cidades