Governança Democrática - 3ª Edição | Page 172

Este novo papel muda, naturalmente, a concepção que se tem do poder. Se por poder se entende a imposição da própria vontade aos demais, seja por meio da lei e da força ou de condicionantes produzidos pelos recursos públicos, a governança significará, sem dúvida, uma perda de poder. Em troca, se este é entendido como a capacidade de fazer valer ou realizar os próprios interesses, o poder dos atores sociais e do governo fica reforçado,2 o deste último em especial, por sua liderança na construção do interesse geral a partir dos interesses legítimos e pela renovada relevância social dos políticos eleitos, que melhora e legitima o “papel” do político na sociedade. A liderança representativa é relacional Vimos que a liderança representativa necessária à governança é relacional; ela busca fortalecer as densidades de interação dos distintos atores. Não procura substituir a sociedade com a sua liderança e torná-la dependente de suas propostas e planos de ação. O interesse do líder relacional será influir nas pessoas para que estas enfrentem seus problemas. Em lugar de oferecer soluções, levantam questões e, mais que solucionar conflitos, sua principal missão é propor desafios coletivos. Já foi dito que a liderança relacional constrói propostas compartilhadas a partir da identificação de interesses, e não aspira a proporcionar programas eleitorais para agradar a um eleitorado passivo, que elege entre produtos em um mercado no qual não intervém como produtor. Uma oferta de produtos que não se baseie no conhecimento profundo dos interesses, necessidades e desejos da cidadania, converte a dinâmica política em crescimento desmesurado e impossível de propostas 2 Ver GALBRAITH, J. K. La anatomia del poder. Barcelona: Plaza y Janés, 1984, p. 45-61. 170 Governança Democrática: Construção coletiva do desenvolvimento das cidades