• O não cumprimento dos programas eleitorais: a desconfiança
na oferta política. A continuação de programas políticos
baseados na oferta de serviços para os quais não há recursos
provoca uma primeira reação de engodo, passa para a
desconfiança e pode chegar à indiferença e ao mais alto
absenteísmo dos cidadãos em relação à política.
• A diferenciação política pela desqualificação. Este é outro dos
efeitos da persistência do governo provedor. A ausência de
políticas inovadoras e não centradas em serviços e benefícios para os que têm poucos recursos leva à não diferenciação entre os programas eleitorais. A semelhança programática é acompanhada, em não poucas ocasiões, pela
diferenciação pessoal, pelo insulto. As acusações constantes e não comprovadas de corrupção ou desperdício
entre os próprios políticos produzem um grave retrocesso
democrático e a descrença nos valores da representação
dos eleitos, que são, nem mais nem menos, os valores da
democracia. Os políticos são a principal causa do seu
próprio desprestígio.
• O comportamento político de “soma zero” ou “todos perdem”.
O sistema democrático é um sistema de ganhar ou perder.
O número de vereadores, deputados e senadores é fixado
por lei; se um partido ganha deputados, outros perdem. Em
matéria eleitoral não se pode aplicar o ganha-ganha, o que
leva à dureza da luta política.1 Esta dureza, em um contexto
1 Outra razão da crise da política, porém desvinculada do governo provedor,
é a existência de instrumentos políticos dos partidos, sem dúvida necessários
à democracia, que não levam em consideração a ci dadania. O fato de que as
cadeiras sejam em número fixo e, portanto, a abstenção seja desconsiderada,
leva a que a luta frontal entre os partidos não tenha muito em conta a
participação eleitoral e a opinião dos cidadãos. Chega-se, inclusive, a desenhar
estratégias eleitorais para aumentar a abstenção, o que é, sem dúvida, uma
perversão. Para uma estreita relação entre partidos e cidadania, assim como
para limitar a luta virulenta pela vitória ou a derrota apenas para o outro, talvez
fosse conveniente vincular, em alguma medida, o número de eleitos ao nível de
participação eleitoral. Desse modo, havendo incremento do número de eleitos
Governança Democrática: Construção coletiva do desenvolvimento das cidades
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