Governança Democrática - 3ª Edição | Page 159

• O não cumprimento dos programas eleitorais: a desconfiança na oferta política. A continuação de programas políticos baseados na oferta de serviços para os quais não há recursos provoca uma primeira reação de engodo, passa para a desconfiança e pode chegar à indiferença e ao mais alto absenteísmo dos cidadãos em relação à política. • A diferenciação política pela desqualificação. Este é outro dos efeitos da persistência do governo provedor. A ausência de políticas inovadoras e não centradas em serviços e benefícios para os que têm poucos recursos leva à não diferenciação entre os programas eleitorais. A semelhança programática é acompanhada, em não poucas ocasiões, pela diferenciação pessoal, pelo insulto. As acusações constantes e não comprovadas de corrupção ou desperdício entre os próprios políticos produzem um grave retrocesso democrático e a descrença nos valores da representação dos eleitos, que são, nem mais nem menos, os valores da democracia. Os políticos são a principal causa do seu próprio desprestígio. • O comportamento político de “soma zero” ou “todos perdem”. O sistema democrático é um sistema de ganhar ou perder. O número de vereadores, deputados e senadores é fixado por lei; se um partido ganha deputados, outros perdem. Em matéria eleitoral não se pode aplicar o ganha-ganha, o que leva à dureza da luta política.1 Esta dureza, em um contexto 1 Outra razão da crise da política, porém desvinculada do governo provedor, é a existência de instrumentos políticos dos partidos, sem dúvida necessários à democracia, que não levam em consideração a ci dadania. O fato de que as cadeiras sejam em número fixo e, portanto, a abstenção seja desconsiderada, leva a que a luta frontal entre os partidos não tenha muito em conta a participação eleitoral e a opinião dos cidadãos. Chega-se, inclusive, a desenhar estratégias eleitorais para aumentar a abstenção, o que é, sem dúvida, uma perversão. Para uma estreita relação entre partidos e cidadania, assim como para limitar a luta virulenta pela vitória ou a derrota apenas para o outro, talvez fosse conveniente vincular, em alguma medida, o número de eleitos ao nível de participação eleitoral. Desse modo, havendo incremento do número de eleitos Governança Democrática: Construção coletiva do desenvolvimento das cidades 157