Introdução à edição brasileira
Os conceitos nas ciências sociais e políticas nem sempre têm
o mesmo significado para todas as escolas e autores: poder,
classe social, sociedade civil, capital social etc. Isto também
ocorre nas ciências físicas, como no caso da incerteza quântica
ou mesmo do conceito de relatividade, o que pode dificultar
tanto a compreensão dos fenômenos como a organização da
ação que tenham tais conceitos em conta. Esta é uma dificuldade que não se pode evitar, dados os distintos contextos socioculturais em que são usados ou seus significados em idiomas
diversos. Portanto, é preciso explicitar os conceitos que se
utilizam e diferenciá-los de outros usos, em especial dos que
têm um significante ou significado contrário.
Este é o caso do conceito de governança, que é utilizado em
alguns meios intelectuais e políticos como modo de governar
corporativo, que diminui a importância da democracia e do
papel da política, ou seja, em sentido completamente antagônico do utilizado neste livro. Por esta razão, é importante explicitar aqui o conceito.
Como assinala Renate Mayntz em um trabalho que reúne os
distintos significados do conceito, por governança se entende,
desde os anos 90, uma nova maneira de governar, diferente do
modelo hierárquico, um modo mais corporativo em que os
atores estatais e não estatais – e, em geral, a sociedade civil –
participam em redes públicas e privadas.1 Desde aquela década,
tem aumentado o consenso no sentido de que a eficácia e legitimidade da atuação do governo fundamentam-se na qualidade
da interação entre os distintos níveis de governos e entre os
1 Ver New challenges to governance theory, European University Institute, The
Robert Schuman Centre Florence. Jean Monnet Chair Papers, n. 50 (1998).
Governança Democrática: Construção coletiva do desenvolvimento das cidades
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