Governança Democrática - 3ª Edição | Page 140

para relacionar-se fazem com que em todas as cidades existam sempre determinados bairros que funcionam, efetivamente, como receptores de imigrantes. Se a situação de uma boa parte dos imigrantes é de pobreza ou de extrema pobreza e os governos locais não dispõem de recursos para investir na renovação urbana, serviços e equipamentos, tais bairros se degradam e a população local passa a atribuir à imigração tanto a degradação de suas condições de vida e de valor dos seus imóveis como a segregação social dos mesmos, particularmente se existe a presença de atividades ilícitas e o bairro é rotulado como perigoso. Em muitas ocasiões, os conflitos nesses bairros são rotulados como racistas, o que leva à segregação de seus moradores em dois grupos antagônicos, à intensificação e ampliação dos mesmos e, o que é mais importante, a uma concepção inadequada de sua natureza, o que dificulta encontrar uma solução baseada em acordo. • A imigração estrangeira (e, em especial, a que vem de lugares com idioma e religião significativamente diferentes aos do país receptor) se relaciona a setores da sociedade receptora como fator de perda de identidade, de tradições e costumes. À parte a debilidade histórica e sociológica desta argumentação, posto que as configurações culturais e idiomáticas de um país, em um momento dado, costumam ser produto da interação de realidades culturais plurais ao longo de sua história, é certo que hoje (como consequência da globalização e do encontro cultural ao nível planetário, assim como da individualização das relações sociais) nos encontramos diante de uma reafirmação da identidade ou singularidade territorial e cultural. • Esta identidade entendida como sentimento de pertencer, como uma expressão de singularidade cultural que interage no interior da cultura universal em constante mudança, conduz à modernidade e à convivência e criatividade 138 Governança Democrática: Construção coletiva do desenvolvimento das cidades