Governança Democrática - 3ª Edição | Page 134

A individualização nas relações trabalhistas se articula com a maior individualização das relações familiares, resultantes da revolução social nas práticas sociais e nos valores que as legitimavam, representada pelo processo de autonomia da mulher por meio de sua plena incorporação à educação superior, ao mercado de trabalho e à atividade política. Uma sociedade mais individualizada não significa, necessariamente, uma sociedade mais egoísta e com maiores níveis de isolamento, mas simplesmente uma sociedade menos determinada pelas ações coletivas e mais sujeita às ações de cada uma das pessoas que formam a sociedade concreta. Individualização significa, por um lado, um processo de desvinculação das instituições e grandes organizações sociais e, por outro, um processo de nova vinculação a outras formas de vida social em que os indivíduos adquirem uma maior importância no desenvolvimento de suas próprias biografias. O florescimento das ONGs nas cidades pode ser relacionado com o trabalho de intermediação que elas exercem entre as pessoas e a sociedade. Quer dizer, uma intermediação mais flexível e atenta às particularidades ou singularidades pessoais, de caráter mais voluntário e menos coercitivo do que as grandes organizações tradicionais – partidos, sindicatos e igrejas. A cidade é cada vez menos um sistema baseado nas grandes organizações, estruturando-se mais via o conjunto de redes de atores institucionais e pessoais que se formam nos âmbitos da economia, da cultura, da política e da ação comunitária. As transformações sociais urbanas situam o indivíduo, enquanto tal, no centro das interações e relações sociais, e isto representa a crise dos modos de vida urbana tradicionais. Em algumas cidades, que se definem mais por sua constante transformação do que por sua ordem social, não existe, 132 Governança Democrática: Construção coletiva do desenvolvimento das cidades