A individualização nas relações trabalhistas se articula com
a maior individualização das relações familiares, resultantes da
revolução social nas práticas sociais e nos valores que as legitimavam, representada pelo processo de autonomia da mulher
por meio de sua plena incorporação à educação superior, ao
mercado de trabalho e à atividade política. Uma sociedade mais
individualizada não significa, necessariamente, uma sociedade
mais egoísta e com maiores níveis de isolamento, mas simplesmente uma sociedade menos determinada pelas ações coletivas
e mais sujeita às ações de cada uma das pessoas que formam a
sociedade concreta.
Individualização significa, por um lado, um processo de
desvinculação das instituições e grandes organizações sociais e,
por outro, um processo de nova vinculação a outras formas de
vida social em que os indivíduos adquirem uma maior importância no desenvolvimento de suas próprias biografias.
O florescimento das ONGs nas cidades pode ser relacionado
com o trabalho de intermediação que elas exercem entre as
pessoas e a sociedade. Quer dizer, uma intermediação mais
flexível e atenta às particularidades ou singularidades pessoais,
de caráter mais voluntário e menos coercitivo do que as grandes
organizações tradicionais – partidos, sindicatos e igrejas.
A cidade é cada vez menos um sistema baseado nas grandes
organizações, estruturando-se mais via o conjunto de redes de
atores institucionais e pessoais que se formam nos âmbitos da
economia, da cultura, da política e da ação comunitária.
As transformações sociais urbanas situam o indivíduo,
enquanto tal, no centro das interações e relações sociais, e isto
representa a crise dos modos de vida urbana tradicionais.
Em algumas cidades, que se definem mais por sua constante transformação do que por sua ordem social, não existe,
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Governança Democrática: Construção coletiva do desenvolvimento das cidades