Apresentação
O leitor atento poderá chegar ao final deste livro com a
sensação de que suas teses e propostas estão a uma distância
imensurável da realidade brasileira. Um sentimento semelhante
ao de um amigo meu, ao ler os originais, cuja identidade não
cabe aqui revelar: “Aproveitei a parada de carnaval para finalizar a leitura do livro... Muito avançado para nós, pobres brasileiros encalacrados com os... [partidos] da vida... Deu um certo
desalento, confesso. Na fase da vida em que estou, muito pouca
esperança me resta de que algo venha a mudar aqui, no meu
tempo. Sou mais pessimista que você, ou talvez menos idealista.
Não enxerguei, em nenhuma linha, a mais tênue característica
ou valores que os nossos políticos possam [ter para], um dia que
eu possa ver, agir com tal grandeza ou compromisso.”
Tamanha descrença, certamente resultado de uma leitura
cuidadosa, não é de todo exagerada à primeira vista. Seja pelas
instigantes reflexões a respeito das transformações hoje em
curso no mundo e seus desdobramentos na cultura política ou
pelas categóricas afirmações que faz sobre a necessidade de
mudanças de posicionamento dos governos perante a sociedade, o trabalho de Josep Maria Pascual Esteve não deixa o
leitor indiferente. Ele tem clareza e força suficientes para fustigar
as práticas de governo estabelecidas – segundo Pascual, já
corroídas pelo tempo – e mostrar o árduo caminho a percorrer,
se quisermos ajustá-las às exigências da chamada sociedade do
conhecimento. Vem daí, pois, o natural abatimento inicial, que
pode ser atribuído mais propriamente à enormidade da tarefa a
ser conduzida do que a qualquer outra impossibilidade estrutural ou moral da sociedade brasileira.
Sim, porque o livro é um contundente chamamento à ação
e traz o entusiasmo e a autoconfiança de quem sabe aonde
Governança Democrática: Construção coletiva do desenvolvimento das cidades
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