Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 97
Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo
Isto parece a Kant inteiramente irrealizável com base nos
“objetivos empíricos de qualquer tipo, todos os quais podem ser
compreendidos sob o nome geral de felicidade”. Quanto à felici-
dade, de fato, “os homens entendem-na de modo inteiramente
diverso, e sua vontade não pode ser referida a nenhum princípio
comum e, por conseguinte, nem a alguma lei externa que se con-
cilie com a liberdade de cada qual”. 40
Neste campo, cada qual é soberano: “Ninguém – escreve
Kant – me pode forçar a ser feliz a seu modo (isto é, tal como
imagina o bem-estar dos outros homens), mas cada um pode
buscar sua felicidade por meio do caminho que lhe parecer bom,
desde que não traga dano à liberdade dos outros de visar ao
mesmo escopo, de sorte que sua liberdade possa coexistir com a
liberdade de qualquer outro segundo uma possível lei universal”. 41
Buscar a própria felicidade, agir segundo o princípio do amor de
si é inteiramente natural, “como bocejar quando vemos os outros
bocejarem”. 42 Mas, se isto vale do ponto de vista subjetivo, não
vale do ponto de vista objetivo.
Só a dependência comum de uma lei universal que os pró-
prios homens se dão guiados pela razão, em sua autonomia, e
que como tal a reconhecem, sentindo-se todos igualmente a ela
vinculados, pode tornar os homens irmãos entre si. A forma
bem conhecida desta lei: “Age de modo a tratar a humanidade
[...] sempre também como fim e nunca simplesmente como
meio” 43 é o que torna possível a concretização da fraternidade
entre os homens no plano moral e no político.
Só o respeito que nasce da consciência do dever pode dar
vida a uma nova ordem moral e civil na moderna sociedade dos
40 Kant, Sopra il detto comune, cit., p. 254.
41 Idem, p. 255.
42 Kant, Critica della ragion pratica, cit., p. 53.
43 Kant, Fondazione della metafisica dei costumi, cit., p. 91.
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