Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 93
Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo
não se exaure na ostentação farisaica que esconde, sob o rosto
caiado de branco, a mentira e a traição.
Kant define-a como “a força da máxima do homem no cum-
primento de seu dever”, que só se deixa reconhecer pelos obstá-
culos que consegue superar no acordo da vontade com o dever.
Estes obstáculos são representados pelas inclinações naturais
que podem entrar em luta com o desígnio moral, e, “como é o
homem mesmo quem opõe estes impedimentos a suas máximas,
a virtude não é só uma coerção exercida sobre nós mesmos [...],
mas também uma coerção exercida seguindo um princípio de
liberdade interna, isto é, por meio da pura representação do pró-
prio dever segundo sua lei formal”. 33
Chama-se “virtude a potência moral presente no primeiro
caso e ato de virtude (ato ético) a ação que se origina de tal
intenção (do respeito à lei)”. Como dever de virtude, a fraterni-
dade refere-se não só à forma das máximas (obrigatoriedade e
universalidade), mas também à matéria delas, vale dizer, ao fim
que se concebe ao mesmo tempo como dever. O princípio
supremo da doutrina da virtude – diz Kant – é: “Age segundo
uma tal máxima dos fins, que tê-la possa ser para cada qual uma
lei universal”. Segundo este princípio, o homem é um fim tanto
para si quanto para os outros, de sorte que “não basta não lhe ser
permitido servir-se de si mesmo e dos outros como simples
meios [...], mas é em si mesmo um dever para o homem propor-
-se como fim o homem em geral”. 34
Assim concebida, a fraternidade é um direito e um dever; o
dever de ter em consideração os direitos dos outros e respeitá-los
como sagrados, que se origina de nosso direito ao respeito alheio.
33 Kant, La metafisica dei costumi, cit., p. 245-246.
34 Idem, p. 247.
91