Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 81

Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo ideia política de fraternidade, construída através da mediação patriótica, com a fraternidade universal. Deste ponto de vista, toda a época das Luzes está atravessada por um rico debate que registra posições teóricas e políticas diversas. Como conciliar a universalidade própria da ideia de frater- nidade entre os homens, como pertencentes, todos, à grande família do gênero humano, com a dos cidadãos como membros de uma pátria comum? Para Rousseau, patriotismo e humanidade são termos incon- ciliáveis e irredutíveis um ao outro. As críticas que dirige à frater- nidade universal são as mesmas que dirige ao cristianismo. A fra- ternidade debilita a coesão cívica porque não pode ser estendida ao infinito. Por isso, deve se voltar para os concidadãos e, desde a educação das crianças, contribuir para o reforço da união dentro do Estado. Rousseau não crê na possibilidade prática de uma construção política da fraternidade e, portanto, na possibilidade de aplicação dos princípios de que ela se substancia, fora dos Estados nacionais, na grande comunidade do mundo. Como se observou, sua fraternidade se detém na fronteira dos Estados. 10 A concepção iluminista, se por um lado abre-se à ideia cosmopolita da fraternidade entre os povos, por outro limita sua realização “ao âmbito da filiação a famílias nacionais”. Ela “deixa entrever muitas coisas”, mas de fato liga a fraterni- dade a “um modelo centrípeto de cidadania construído com base no Estado-nação”. 11 Tanto é assim que “a Grande Revolução não reconhecerá aos negros o direito de aplicar no Haiti os mesmos princípios que valiam em Paris”. 12 10 Ibidem. 11 Resta, Il diritto fraterno, cit., p. XI. 12 Baggio (org.), Il principio dimenticato, cit., p. 42. 79