Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 80
Maria Rosaria Manieri
liberdade e da igualdade, e exclui todos os outros. 9 Só quando
um povo tiver estabelecido sua liberdade e segurança sob leis
sábias – diz Robespierre – e seus inimigos se encontrarem na
impossibilidade de lesá-lo, só então virá o momento da fraterni-
dade geral. Neste meio-tempo a fraternidade só pode ser exclu-
siva, só pode ser militante.
Na perspectiva sans-culotte e jacobina, a noção de fraterni-
dade sofre um deslizamento semântico significativo. De prin-
cípio geral de uma nova ordem social, baseada na união uni-
versal de seres livres e iguais, tal como em 1789, a fraternidade
torna-se liame exclusivo de um partido político que, animado
pelo princípio de regenerar os homens tornando-os iguais, não
hesita em se servir da guilhotina para atingir o escopo e abater
os obstáculos que encontra nesta missão. A fraternidade toma o
caminho do terror.
Outras vezes na história a fraternidade se moveu no
esquema ideológico próprio do jacobinismo, ou seja, da invo-
lução particularista rumo a uma ligação de grupo político, classe
ou nação, que se sentem investidos da missão de remodelar o
mundo para torná-lo conforme aos próprios ideais. Mas, sempre
que isto aconteceu, a fraternidade negou a si mesma, chegando a
resultados paradoxais e quase sempre trágicos. Aconteceu com o
comunismo e aconteceu com os nacionalismos da Europa de
início do século XX.
No entanto, a interpretação jacobina não é a única interpre-
tação política da fraternidade nem sequer aquela que predomina
na modernidade.
Nem todos os revolucionários, de fato, situando a origem da
fraternidade na pátria e na nação, pretenderam desprezar a frater-
nidade universal. Ao contrário, muitos deles tentaram conciliar a
9 Baggio (org.), Il principio dimenticato, cit., p. 41.
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