Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 79

Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo concreto dos cidadãos na pátria, esta não é nada sem a Nação, a qual é Tudo e através da qual todos são irmãos porque, como diz Rousseau, são todos cidadãos, porque partícipes da autoridade soberana, e sujeitos, porque submetidos às leis do Estado; 8 todos filhos e pais de si mesmos, porque a sociedade nova é sua criação e a nação com a qual se identifica o Estado lhes garante paz e segurança, bem-estar e unidade. O primeiro modo de funcionamento da fraternidade no plano político da França revolucionária é seu uso para fazer de tantos territórios uma Pátria e uma Nação. A ideia predomi- nante é a de uma fraternidade que una todos os franceses. Os componentes da Guarda Nacional são chamados a jurar decla- rando-se não provençais, alsacianos ou qualquer outra coisa, mas franceses. O nexo nacional encontra expressão concreta nos princí- pios jurídicos e nas instituições políticas sancionados pela Cons- tituição republicana e na adesão dos cidadãos a eles. Deste nexo e da relevância que assume derivam as diversas interpretações da fraternidade. A Constituição montagnarde de 1793 baseia a unidade nacional sobretudo no princípio funda- mental da igualdade dos cidadãos, que se expressa na soberania popular, de que decorre o sufrágio universal como direito natural. Para os jacobinos, segundo os quais a pátria só existe onde o povo é soberano, a fraternidade é impossível onde esta soberania não seja ainda plenamente exercida. Neste caso, a única fraternidade que se pode realmente praticar é uma frater- nidade de luta, aquela que liga um patriota a outro patriota. Enquanto a Revolução não for completada e a pátria estiver ameaçada em seus valores fundadores, a fraternidade, por isso, só pode se desenvolver entre os patriotas, entre os amigos da 8 Borgetto, La notion de fraternité en droit public français, cit., p. 71. 77