Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 78
Maria Rosaria Manieri
bens, mais do que a liberdade e a igualdade, é vista como possi-
bilidade de retorno à fraternidade de origem, preexistente ao
surgimento da sociedade civil, no discurso patriótico, ao con-
trário, a liberdade e a igualdade são as condições necessárias não
para a reconquista da fraternidade perdida, mas para o advento
de uma fraternidade nova, constructo da ação dos homens no
exercício de sua autonomia. 5
Esclarece bem esta diferença Mona Ozouf, que a este res-
peito distingue dois tipos de fraternidade: uma dada, baseada na
identidade natural de todos os homens, “a fraternidade que é
preciso reencontrar”, e uma construída, que, ao contrário, é pre-
ciso “inventar”. 6
A pátria é o símbolo do laço que se constrói entre os cida-
dãos como adesão consciente a um projeto histórico e a um
horizonte de sentido compartilhado. Assim entendida, a pátria
implica a fraternidade e esta, por sua vez, através da “mediação
patriótica”, 7 une-se ao espírito democrático e republicano e se
realiza pela primeira vez como fraternidade política.
Na medida em que não há fraternidade sem pátria e não há
pátria sem liberdade e igualdade, a fraternidade torna-se demo-
crática. Do mesmo modo, na medida em que a República,
segundo os autores da época, implica necessariamente a ideia de
pátria, a fraternidade torna-se republicana.
No conceito de pátria, unem-se assim, de modo indisso-
lúvel, os três termos da trilogia revolucionária.
A Nação traduz e realiza esta ideia no plano político e jurí-
dico. Tal como a fraternidade é pura abstração fora do vínculo
5 Idem, p. 27.
6 M. Ozouf, La Révolution Française et l’idée de fraternité, in idem L’Homme regé-
néré, Paris, Gallimard, 1989, p. 165-166.
7 J.J. Rousseau, Il contratto sociale, Milão, A. Mondadori, 2002, I, cap. IV.
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