Fraternidade . Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo
ralismo , em suas versões mais fortes de derivação comunitarista , é “ a última epifania do perene anti-iluminismo ”. 64
A afirmação do primado das culturas sobre os indivíduos , declinadas na linguagem dos direitos culturais reconhecidos a coletivos , arrisca-se a pôr em perigo a liberdade individual , a laicidade do Estado e os laços de solidariedade intercomunitária . Tal afirmação , de qualquer modo , assinala o retorno da “ dimensão tribal da política , modelada segundo a extensão do vínculo de sangue às instituições coletivas ”. 65 É um perigo real para as democracias ocidentais . Apesar disso , o fenômeno da irrupção das políticas da diferença e sua justificação teórica , que mobiliza insignes intelectuais de nosso tempo , pode ser simplesmente liquidado como uma nova forma de anacrônica reação às conquistas da democracia e do racionalismo ocidental ? Como uma espécie de reação ao processo de liberalização e individualização , visto como a causa das dificuldades de nossa vida comunitária ? Ou estas são , na verdade , o sinal de um déficit e de um limite de nossas democracias ?
Não por acaso , a maior parte das questões de tolerância são postas hoje como exigências de reconhecimento e apresentadas como uma maneira de realizar as promessas de universalidade e de igual liberdade de que se alimenta a modernidade como projeto . Elas correspondem à exigência de real integração .
Nesta ótica , a referência à identidade , mais do que a marca de alguma forma de arcaísmo , pode ser lida como “ um elemento de progresso , por exemplo quando se baseia numa adesão aos valores da democracia ou quando constitui o desejo de uma globalização de tipo diverso ”. 66
64 Idem , p . VII . 65 Vitale , Liberalismo e multiculturalismo , cit ., p . 19 . 66 P . Savidan , Il multiculturalismo , Bolonha , Il Mulino , 2010 , p . 69 .
67