Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 67
Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo
cimento da “identidade irrepetível, distinta daquela de qualquer
outro, deste indivíduo ou deste grupo”. 59
As políticas de reconhecimento, portanto, apresentam-se
“antes como cumprimento das promessas da democracia liberal
do que como uma alternativa à mesma e, mais precisamente,
como reparação de certo tipo de injustiça, a falta de respeito
igual a grupos oprimidos e subordinados”. 60
As dificuldades encontradas pelas políticas liberal-democrá-
ticas derivam, por isso, de sua natureza ambivalente: por uma parte,
devem responder a uma demanda universal, por outra, devem fazê-
-lo na dimensão específica e contextual de grupos particulares.
O clima de nosso tempo – observa Marramao – “está repre-
sentado por uma rebelião cada vez mais extensa e intensa das polí-
ticas da diferença, reivindicadas pelos diversos grupos em face do
modelo universalista ocidental”. Devemos nos haver com a insur-
gência de verdadeiros “fundamentalismos nativos”, para os quais
as instituições do universalismo representam o reino da “grande
frieza (do Big Chill)”, “porque irremediavelmente marcadas por
natural indiferença em relação às diferentes ‘políticas de reconhe-
cimento’ buscadas pelas múltiplas ‘comunidades’”. 61
Na realidade, no mundo ocidental, o reconhecimento da
identidade esteve sempre referido ao indivíduo, sujeito titular de
direitos e funções, e à afirmação da igual dignidade de cada
qual. Também por isso foi portador de emancipação, exatamente
porque fazia referência ao que é considerado comum a todos os
homens e específico de cada um.
59 Taylor, La politica del riconoscimento, in Habermas e Taylor, Multiculturalismo,
cit., p. 23.
60 Galeotti, Rispetto come riconoscimento, cit., p. 49.
61 Marramao, Passaggio a Occidente, cit., p. 184.
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