Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 66
Maria Rosaria Manieri
Ao contrário, o multiculturalismo reivindica o reconheci-
mento de “direitos coletivos” relativamente a comunidades ou
grupos, assinalando uma mudança de parâmetro de nossas
formas democráticas.
Seus defensores afirmam que as questões atuais de tole-
rância têm a ver, mais do que com a autonomia e a liberdade de
consciência dos indivíduos, com a falta de reconhecimento de
identidades culturais diferentes.
Partindo do pressuposto de que a identidade de cada qual
está intimamente ligada às formas de seu reconhecimento,
Charles Taylor afirma que “um reconhecimento adequado não é
só uma cortesia que devemos aos semelhantes: é uma necessi-
dade humana vital”, 57 sendo a falta de reconhecimento fonte de
sofrimento real.
No mundo ocidental, modela-se o igual direito ao reconhe-
cimento tendo por referência um tipo humano imaginado como
pessoa. Isto gera efeitos de exclusão sobre quem não se conforma
a este tipo. 58 Daí a exigência de políticas que se construam com
base na diferença dos valores éticos das diversas comunidades
que compõem a sociedade, capazes de resolver o paradoxo implí-
cito na teoria liberal entre o caráter universal das normas e pri-
vado das crenças morais.
Segundo os multiculturalistas, as liberal-democracias com-
preendem, de fato, seja o universalismo, que se apoia na “igual
dignidade de todos os cidadãos”, seja a diferença, como reconhe-
57 Cf. C. Taylor, Radici dell’Io, Milão, Feltrinelli, 1993. Do mesmo autor, Il disagio
della modernità, Roma-Bari, Laterza, 1994; J. Habermas e C. Taylor, Multicultura-
lismo. La politica del riconoscimento, Milão, Anabasi, 1993 e, também com o mesmo
título, Milão, Feltrinelli, 1998.
58 A.E. Galeotti, Rispetto come riconoscimento, in I. Carter e outros, Eguale rispetto,
Milão, Bruno Mondadori, 2008, p. 49.
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