Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 65
Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo
“A variedade das doutrinas compreensivas razoáveis (reli-
giosas, filosóficas e morais) presentes nas sociedades democrá-
ticas modernas – observa Rawls – não é um puro e simples dado
histórico que possa desaparecer em breve tempo, mas um
aspecto permanente da cultura pública da democracia”, 55 com
base na qual os cidadãos, individualmente ou em associação,
praticam em sua vida privada, cada qual livre e legitimamente,
diferentes estilos de vida, crenças e valores nos limites da razoa-
bilidade, estando unidos no plano político e institucional por
um núcleo de princípios públicos comuns.
Nesta ótica, Rawls relança o valor social da tolerância e
repropõe em termos positivos a neutralidade que o Estado liberal
deve ter, em suas instituições e nas políticas públicas, em relação
às doutrinas morais fundamentais.
Na trilha de Rawls, Salvatore Veca distingue três diferentes
ordens de razões aduzidas em apoio à tolerância: o argumento
prudencial, com base no qual a tolerância é a solução racional
para os custos excessivos da intolerância; o argumento epistemo-
lógico, que atribui à tolerância um valor instrumental nas moda-
lidades de investigação cooperativa da verdade em matéria de
crenças sobre nós e o mundo; o argumento moral, que assume a
tolerância como valor em si no âmbito do pluralismo de valores.
Também para Veca a tolerância é a resposta à questão cen-
tral das sociedades democráticas, “a da estabilidade de uma
sociedade justa, dado o fato do pluralismo”. 56
Na proposta neoliberal, o princípio último resta a liberdade
individual e a tolerância se confirma como valor e parte, ela
mesma, do caminho da justiça.
55 Rawls, Liberalismo politico, cit., p. 47.
56 Idem, p. 56.
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