Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 64

Maria Rosaria Manieri Conhecido defensor da primeira posição é John Rawls, cujo Liberalismo político 53 pode ser lido como um tratado contempo- râneo sobre a tolerância; “uma das maiores contribuições de filosofia e teoria política” de nossos tempos, capaz de constituir, segundo Veca, verdadeira bússola “para nos orientar no sentido de nos pensarmos e aos outros, pensar os valores e os fins cole- tivos da vida justa que nos identificam como cidadãos e cidadãs, na variedade preciosa das diferenças e dos modelos plurais de vida boa em que, com os outros, nos reconhecemos como as pes- soas particulares que somos ou nos tornamos”. 54 Para o liberalismo político, a discussão sobre a tolerância se entrelaça com aquela sobre a justiça e coloca o problema de uma reorganização mais equânime do espaço público diante da emergência de novos atores na cena política. Tal reorganização tem de prescindir de nossas crenças, as quais, por mais verda- deiras que possam nos parecer, são compartilhadas só por nós e os que pensam como nós. Ela é possível sob a condição de que os indivíduos, postos sob “um véu de ignorância” capaz de ocultar as vantagens sociais e naturais de que dispõem, se esforcem por negociar os princí- pios de justiça que devem estar na base de uma sociedade bem ordenada; sob a condição de que todos possam aprovar tais princípios, embora tenham crenças diferentes; e de que sobre nossa racionalidade absoluta prevaleçam a razoabilidade e nosso interesse superior na cooperação e na convivência civil. A resposta de Rawls aos conflitos que as diferenças étnicas e culturais provocam, com o risco de novos e dramáticos dilace- ramentos nas relações entre os indivíduos, é a sociedade justa. 53 J. Rawls, Liberalismo politico, Milão, Comunità, 1994. 54 S. Veca, Avvertenza, in Rawls, Liberalismo politico, cit., p. X. 62