Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 55

Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo A nova explosão de fundamentalismos religiosos e sua glo- balização justificam, de fato, a exigência de uma forte retomada da reflexão contemporânea sobre a tolerância em seu significado histórico originário. Se quisermos compreender a religião no mundo moderno – sustenta Ulrich Beck –, antes de tudo devemos compreender o paradoxo de sua globalização: “Com todo o seu humanismo, a religião traz consigo uma tentação totalitária. Do universalismo da religião nasce uma fraternidade que transcende classe social e nacionalidade, mas também a demonização dos outros pensamentos religiosos”. 34 As religiões criam um universalismo diante do qual todas as barreiras nacionais e sociais se tornam menos importantes, mas ao mesmo tempo manifestam o perigo de que as barreiras étnicas, nacionais e de classe sejam substituídas por aquelas “entre crentes na verdadeira fé e crentes na fé errada”. As religiões “podem cons- truir pontes entre as pessoas onde existem hierarquias e fronteiras e, ao mesmo tempo, abrir novas voragens determinadas pela fé onde antes não havia”. Daí o temor que atualmente tem se difun- dido: “que o avesso da medalha do fracasso da secularização seja a ameaça de um novo século de trevas”. 35 No entanto, diante deste temor parece que nós, herdeiros de Voltaire, ainda temos algumas dificuldades a propósito da tole- rância: “Existe incerteza significativa em torno de suas razões e de sua justificação, bem como de seus limites e contextos variáveis”. 36 O próprio termo se carregou de ambiguidades e significados nem sempre positivos. Mas o ponto no qual – observa Bobbio – “não parece ambígua a história destes últimos séculos consiste em mostrar a interdependência entre teoria e prática da tolerância, por um lado, e o espírito laico, entendido 34 U. Beck, Dio, rischio della società globalizzata, La Stampa, 19 nov. 2010. 35 Ibidem. 36 Veca, Dell’incertezza, cit., p. 199. 53