Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 47

Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo regular suas ações recíprocas, ninguém “deve ser levado pela força a renunciar à própria opinião ou a aceitar a opinião con- trária à sua, porque uma coação desse tipo não pode produzir nenhum efeito real para o fim pelo qual é empregada”. E não serve para eliminar os conflitos porque “não aumenta em nada o consenso”, antes “faz crescer a hostilidade”. 9 O único resultado possível é a hipocrisia. A coação é própria do Estado. O Estado comanda, a Igreja persuade. E “uma coisa é persuadir, outra comandar, uma coisa instar com argumentos, outra instar com decretos: estes são próprios do poder civil, aqueles da benevolência humana”. 10 Não cabe, pois, ao poder civil prescrever artigos de fé, dogmas ou modos de culto divino com a lei civil ou tornar-se guardião de determinada concepção de vida boa. Em termos de salvação, cada qual possui o direito supremo e absoluto de julgar tudo aquilo que lhe diz respeito. E a Igreja não pode apelar ao poder civil para afirmar suas regras e seus dogmas. A tolerância exige a recíproca emancipação do Estado e da Igreja em nome de uma exigência comum de liberdade. Ela ama- durece no terreno moderno da laicidade do Estado e da política. A laicidade não nega o sentimento religioso nem o submete à autoridade do Estado, mas pede simplesmente que não seja misturado à política com finalidade de domínio. Do mesmo modo, a tolerância não significa indiferença à religião, cujo valor social e civilizatório Locke faz questão de sublinhar. A religião “é o fundamento de toda a moralidade e influencia totalmente vida e ação dos homens; sem ela, um homem deve ser considerado como uma das mais perigosas 9 Locke, Saggio sulla tolleranza, apêndice a Lettera sulla tolleranza, cit., p. 72. 10 Locke, Lettera sulla tolleranza, cit., p. 10. 45