Fraternidade . Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo
Tons semelhantes adota Pierre Bayle , o qual , intervindo no debate do tempo , reivindica a tolerância como respeito à consciência dos indivíduos e em defesa da paz civil . “ Não me parece de modo algum – ele escreve – que se entra no verdadeiro espírito do cristianismo quando se extraem conversões à força de dinheiro e se torna impossível a vida daqueles que não querem se converter ”. 5
A falta de tolerância produziu a maior parte das lutas e guerras que , no mundo cristão , levaram irmãos a matar irmãos . A intolerância é a causa principal da desordem dentro dos Estados . A tolerância pouparia o mundo de todo este mal , o espírito perseguidor , ao contrário , traz este mesmo mal até ele . As páginas de Bayle sobre a tolerância são de uma audácia extraordinária para sua época . Ele tenta fundar moralmente os “ direitos da consciência errante ”, mas se põe também o delicado problema de seus limites . 6
A raiz de todo fundamentalismo não é o sentimento religioso , aquele verdadeiro , alheio a todo conformismo ou oportunismo político , mas o poder : o poder da Igreja , quando se faz teologia política e se serve da política , e o poder do Estado , quando se faz teocrático e usa a religião para fins de domínio .
Como consequência – afirma Locke –, para que “ ninguém invoque o zelo pelo Estado e a observação das leis como pretexto para a perseguição e a crueldade pouco cristãs e , reciprocamente , outros não pretendam , sob o pretexto da religião , poder praticar costumes licenciosos ou lhes ser concedida a impunidade dos delitos ”, é necessário “ estabelecer a fronteira correta entre Estado e Igreja ”. 7
5 P . Bayle , Pensieri sulla cometa , Roma-Bari , Laterza , 2009 , p . 163-164 . 6 P . Bayle , De la tolérance . Commentaire philosophique , Paris , H . Champion , 2006 . 7 Locke , Lettera sulla tolleranza , cit ., p . 8 .
43