Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 38

Maria Rosaria Manieri povo hebreu, mas na universalização que da ideia de próximo o cristianismo opera. A universalidade do amor fraterno constitui a essência mesma da Revelação, o completamento e a efetivação da Lei, e é ela que confere à ideia de fraternidade uma dimensão inteira- mente nova. Quando um Doutor da Lei pergunta: “Mestre, o que devo fazer para herdar a vida eterna?” (Lucas 10, 25), Jesus devolve-lhe a pergunta apelando ao conhecimento que ele tem do que está contido na Sagrada Escritura, e o Doutor da Lei não hesita em responder: “Ama a Deus com todo o teu coração e com toda a tua mente, e ao próximo como a ti mesmo”. “Respondeste bem – diz Jesus –, faz isto e viverás” (Lucas 10, 28). Mas o Doutor da Lei, querendo colocá-lo em dificuldade, rebate: “E quem é meu pró- ximo?” (Lucas 10, 29). Então, Jesus responde com aquela que é conhecida como a parábola do Bom Samaritano (Lucas 10, 30-37): Certo homem, ao descer de Jerusalém para Jericó, foi atacado por salteadores, que o roubaram, espancaram e deixaram meio morto na beira da estrada. Passam por ali um sacerdote e um levita, os quais, mesmo vendo o desgraçado, evitam parar e seguem adiante; passa um samaritano, o qual, movido por compaixão, detém-se, pensa-lhe as feridas, coloca-o no próprio cavalo, leva-o a uma estalagem e dele cuida. [...] “Qual destes três – pergunta então Jesus – te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos saltea- dores?” Naturalmente, a resposta é: “Quem teve compaixão dele”. Jesus concorda: “Vai e faz o mesmo”. Na resposta à pergunta do Doutor da Lei reside o coração da revolução capital que o cristianismo opera em relação a toda e qualquer ética arcaica do amor ao próximo. De fato, a pergunta não é inusitada. Nela “está presente um eco dos debates dos mestres do tempo a propósito do conceito de 36