Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 34
Maria Rosaria Manieri
autêntica do ato moral. Mesmo o leproso é transfigurado como
manifestação do Absoluto e instrumento de sua realização.
No final, o que verdadeiramente importa no ato do amor é
sua natureza salvífica. É a preocupação com a própria salvação
que leva o homem a encontrar Deus e, através do amor de Deus,
os irmãos.
O mandamento cristão requer não só que se cumpram
ações em favor do próximo, mas que se ame este próximo com
um amor que, à imitação daquele de Cristo, redima o mundo.
A caridade que redime o mundo exige abdicação da vontade
individual. Ela é obediência e serviço. Os dois maiores atos de
amor que a história da salvação conhece, o de Maria e o de
Cristo, começam com um fiat. A obediência torna-se o primeiro
artigo das virtudes cristãs. Antes de mais nada, à vontade de
Deus, de que, no entanto, derivam muitas outras formas de obe-
diência: dos súditos ao rei, da mulher ao marido, dos filhos aos
genitores. O pecado é um ato de orgulho e presunção que leva o
homem a subtrair-se à vontade de Deus e a sua custódia. O amor
de si dana o mundo. Ele subverte a ordem divina, afasta o homem
de Deus e torna indiferentes os homens uns aos outros. 5
Só a “morte do velho homem”, a metanoia, a adesão plena e
incondicionada à vontade de Deus podem fazer florescer o amor
cristão e, com ele, a esperança da salvação.
O homem pode escolher a exaltação de si ou a glória de
Deus. No primeiro caso, sua liberdade se traduz na rebelião luci-
ferina e comporta a queda, a perda da meta, o abandono da casa
do Pai. No segundo, ele realiza a liberdade dos filhos de Deus,
assume a única decisão verdadeira que legitima seu ser: tornar-
-se instrumento do amor de Deus que salva o mundo.
5 P. Zweig, L’eresia dell’amore di sé. Storia dell’individualismo sovversivo nella cultura
occidentale, Milão, Feltrinelli, 1984, p. 37.
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