Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 30

Maria Rosaria Manieri O remédio para o fundamentalismo individualista, doença do Ocidente moderno, não é nem pode ser o comunitarismo, seja qual for a forma em que se apresente. A centralidade do indivíduo, a ideia de que o indivíduo tem valor em si mesmo e axiologicamente vem antes da sociedade e do Estado, é uma conquista irreversível da modernidade. Norberto Bobbio exorta “a desconfiar de quem defende uma concepção anti-individualista da sociedade. Pelo anti-individua- lismo passaram mais ou menos todas as doutrinas reacionárias”. 29 O princípio da fraternidade, sua redefinição, inovação e desenvolvimento, pode constituir ponto de avaliação e orien- tação de nosso agir prático nos conflitos e nas contradições atuais. Mantendo firme a perspectiva moderna acerca da priori- dade do indivíduo, a fraternidade ajuda a reunir instâncias con- trapostas dificilmente conciliáveis, mas todas irrenunciáveis, em particular aquelas fundamentais de liberdade e igualdade nas formas antigas e novas em que hoje se apresentam. Impede, sobretudo, que elas se excedam e degenerem com base nas contingências históricas particulares. Sem a fraterni- dade, a liberdade se torna incomunicabilidade e separação. Sem a fraternidade, a igualdade se torna coletivismo e igualitarismo. Precisa-se de comunidade; mas a única comunidade possível, e é necessário que assim seja, no mundo dos indivíduos é uma comunidade responsável de seres livres e iguais, na qual a fraterni- dade desempenha um papel importante junto com a liberdade e a igualdade; uma comunidade em que “cada qual é um todo de liberdade e não uma parte subordinada ou funcional”. 30 29 Bobbio, L’età dei diritti, cit., p. 117. 30 Viola, La fraternità nel bene comune, cit., p. 161. 28