Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 29

Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo No projeto moderno, a fraternidade representa a ideia, laica e racional, do laço universal dos indivíduos como seres humanos e de seu destino comum. Incindivelmente ligada à liberdade e à igualdade, ela cons- titui a base fundadora dos direitos humanos. A Declaração dos direitos do homem – afirma Philippe Ardant 28 – teria sido um manifesto do individualismo, com sua carga de egoísmos, se não estivesse ligada nem fosse moderada e enobrecida pela ideia de fraternidade, que, embora não figure no texto, a ele subjaz. Reunindo classes que antes estavam separadas, a fraterni- dade permitiu a introdução de uma concepção mais ampla e universal da cidadania. Neste contexto delinearam-se as ideias de civilização, Ocidente, democracia, welfare. Em grande parte de sua história, a modernidade viu-se às voltas com a sociedade-problema, e o tema da fraternidade, ainda que calado ou submerso, continuou a ser o principal critério de referência da política e da ética. A identidade do Ocidente é o produto das respostas que a este problema foram dadas, dos sucessos e das derrotas que se registraram neste terreno. Mas este ainda é, em condições mudadas, nosso padrão de aferição. Como instituir comunidade no atual estado do mundo, sanando a ação desagregadora de um individualismo que perdeu a dimensão social e é gerador de crises? Como evitar que nos encerremos na prisão de nossos medos e sejamos retidos nos escolhos do egoísmo particularista, em que correm o risco de naufragar as democracias ocidentais? E, ao mesmo tempo, como evitar derivações comunitaristas, totalitárias e liberticidas, que a história experimentou tragicamente? É um problema