Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 24

Maria Rosaria Manieri podem abrir novos espaços humanos com fronteiras cada vez mais amplas. É a tarefa que desde sempre a razão prática, mais estrita- mente ética, dos homens está chamada a desempenhar e que, como Kant nos ensinou, é irredutível à razão instrumental. A renúncia a esta tarefa e às responsabilidades individuais e coletivas que ela comporta assinala a rendição aos mecanismos da nova objetividade da sociedade líquida moderna e o declínio irreversível de nossa liberdade e daquele agir mais propriamente humano, graças ao qual o homem se reconhece como tal, adquire dignidade e merece respeito. Permanecer fiel a esta tarefa, ao contrário, requer a reação vigorosa, nas mudadas condições do mundo, ao estado de nii- lismo em que estamos imersos. Na desorientação contemporânea, a reconstrução de fundamentais princípios morais se insere entre as urgências de uma sociedade privada de pontos de referência. 18 Precisamos construir um novo dever, mas, para fazê-lo, devemos chegar a estabelecer princípios, porque “toda fundação exige uma base sem a qual o edifício não fica em pé. Sobre quais princípios – interroga-se Jacqueline Russ – se baseará o pensa- mento ético de nosso tempo?”. 19 Redescobrir e redefinir no plano prático a fraternidade, não tanto como exigência do coração, espontaneísta e voluntarista, como caridade, que, não obstante, Salvemini definiu como “a flor mais bela do coração humano”, 20 mas escolha civil de seres humanos que reconhecem o valor de si como pessoas e dos outros, de todos os outros, sem distinção alguma de sangue, fé, 18 Russ, L’etica contemporanea, cit., p. 16. 19 Idem, p. 20. 20 G. Salvemini, Democrazia, laicità, giustizia. Antologia degli scritti, organização de G. Pecora, Atripalda (Avelino), Mephite, 2007. 22