Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 22
Maria Rosaria Manieri
agir moral como agir livre na base da sociabilidade do homem e,
em última instância, de sua sobrevivência como espécie.
Nossa época é a do vazio, assinalada pelo crepúsculo do
dever 12 e pelo fim das grandes narrativas; uma época na qual o
homem, perdida a confiança em ser senhor de si e do mundo,
experimenta, em formas inteiramente inéditas, a própria fragili-
dade, impotência e insegurança.
Rompido o nexo prescritivo entre particular e universal,
entre sujeito e dever, que de todo modo manteve unidas as socie-
dades modernas desde sua origem, pululam em nosso tempo
exigências e necessidades que não se podem mais colocar como
deveres universais. A época contemporânea oscila assim entre
manifestações de arbitrário particularismo e de informe massi-
ficação, entre a racionalidade dos meios (a técnica) e a irraciona-
lidade dos fins. 13
No vazio ético emerge a exigência de uma nova bússola.
Não se trata só de um problema teórico, mas de repensar o
mundo e nossa condição nele, bem como de encontrar o funda-
mento que justifique nosso agir, privado e público, como indiví-
duos e como comunidade, sem por isso recorrer a novas âncoras
metafísicas ou religiosas ou a referências identitárias com base
em nossas raízes ocidentais.
A raiz do homem é o homem mesmo e o sentido das coisas
é aquele que “a humanidade, o último jogador do universo, con-
seguir encontrar”. 14 Por isso, “é preciso encarregar-nos do
mundo para tentar, antes de mais nada, compreender seu sen-
tido. E transformá-lo, se nos parecer insuportável”. 15
12 G. Lipovetsky, Le crepuscule du devoir, Paris, Gallimard, 1992.
13 J. Russ, L’etica contemporanea, Bolonha, Il Mulino, 1997, p. IX.
14 S. Bonvicini e J. Attali, Il senso delle cose, Roma, Fazi, 2011, p. 9.
15 Ibidem.
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