Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 140

Maria Rosaria Manieri que eles lhe deram. Ainda mais que a teoria de Marx não pre- tende ser um sistema fechado e em si coerente, mas “um campo aberto de perguntas e contradições, de aporias e respostas jamais definitivas”, um pensamento “que jamais se acomoda com o mundo”; o contrário, inteiramente, daquilo que em seguida se denominaria historicamente “marxismo”, que naturalmente tem com o pensamento de Marx, a que se refere, relação de con- tinuidade direta, mas não de sobreposição identitária. 69 Reajustar contas com Marx, reatar o fio rompido de uma visão política cujo sinal peculiar é a crítica do presente e a espe- rança de um futuro mais humano e solidário para todos read- quire peso e significado no quadro da atual fase do mundo. Diante dos problemas humanos e sociais de dimensões mundiais decorrentes da explosão do capital, da mercantilização e da proliferação da indústria financeira, do crescimento do individualismo e do desenvolvimento da precariedade, a per- gunta que novamente urge é: que fazer? Uma pergunta que nenhuma filosofia da práxis pode eludir. As trágicas experiências dos socialismos reais nos dizem que não basta o fim do capitalismo para que, depois da morte do velho homem, se escancarem as portas do reino da liber- dade e da fraternidade. O socialismo – afirma Dunn – “não transformará magicamente as características do demos”, 70 assim como não o farão o mercado e o triunfo de um liberismo que estão convencidos de ter liquidado o socialismo e as ins- tâncias por ele representadas. Nosso tempo está “fora dos eixos”, segundo a invocação do Hamlet shakespeariano retomada por Derrida, 71 ou seja, os 69 Fusaro, Bentornato Marx!, cit., p. 40. 70 Dunn, La teoria politica di fronte al futuro, cit., p. 178. 71 Derrida, Spettri di Marx, cit., p. 105-108. “The time is out of joint” (Hamlet, ato I, cena 5, 188). Referido a hoje, este out of joint, que parece acompanhar a épo- 138