Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 133
Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo
natural do homem pobre e sem necessidades, do homem que
não superou a propriedade privada por não ter a ela chegado”;
resulta do homem humanamente rico, que individualiza e reco-
nhece o outro homem como sua necessidade mais elevada: “Em
lugar da velha sociedade burguesa, com suas classes e seus anta-
gonismos de classe, surge uma associação na qual o livre desen-
volvimento de cada qual é a condição para o livre desenvolvi-
mento de todos”. 51
A completa socialização da natureza humana só pode se
realizar, portanto, com a completa socialização/fraternização
das relações humanas.
Com o capitalismo se conclui a pré-história da sociedade
humana e começa a verdadeira história da humanidade, com-
pletamente emancipada e solidária. 52
Esta ideia – observa Mona Ozouf – coloca Marx no sulco da
tradição iluminista e recorda a célebre afirmação de Mirabeau,
para o qual graças à Revolução se poderia esperar que, “depois
da gesta das bestas ferozes”, pudesse ter início a história dos
homens, “a história dos irmãos”. 53
Por outra parte, observando-se bem a obra marxiana, dos
Manuscritos à Ideologia alemã e à Crítica do programa de Gotha,
o comunismo está configurado, de fato, como reino da liberdade,
em contraposição à necessidade, mas não certamente da igual-
dade; antes, como esfera em que finalmente “o direito igual” da
sociedade burguesa será superado e as diferenças entre os
homens encontrarão pleno campo de livre afirmação: “De cada
qual segundo suas capacidades, a cada qual segundo suas neces-
sidades”. Daí a convicção que Ozuf extrai: “O filósofo de Trier,
51 Marx, Manoscritti economico-filosofici del 1844, cit., p. 50.
52 Marx, Lineamenti per la critica dell’economia politica, cit., p. 6.
53 M. Ozouf e F. Furet, Dizionario critico della Rivoluzione Francese, verbete “Frater-
nité”, Milão, Bompiani, 1968, p. 665.
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