Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 130

Maria Rosaria Manieri tem seus fundamentos objetivos na estrutura mesma da socie- dade burguesa e que, através da superação do capital, deve con- duzir à “comunidade completa”. A fraternidade é a ligação especial, prático-concreta, deste movimento e o escopo que ele persegue: a comunidade de homens livres e solidários. Neste sentido, a fraternidade é o princípio constitutivo da sociedade futura. O jovem Marx parece apreender na fraternidade militante dos operários parisienses a imagem em miniatura da humani- dade emancipada e solidária que constitui o objetivo real do desenvolvimento histórico: “Quando os operários comunistas se reúnem, eles têm primariamente como objetivo a doutrina, a propaganda etc. Mas com isto se apropriam ao mesmo tempo de uma nova necessidade, a necessidade da sociedade, e o que parece um meio se tornou um fim. [...] Basta-lhes a sociedade, a união, a conversação que esta sociedade, por sua vez, tem como objetivo; a fraternidade dos homens não é neles uma frase, mas uma verdade, e a nobreza do homem se irradia daqueles rostos endurecidos pelo trabalho”. 44 Tal como a transição do feudalismo ao capitalismo foi o produto da evolução social, assim também o colapso do capita- lismo está implícito em seu caráter socioeconômico. A tendência de longa duração que Marx apreende na dinâmica capitalista é a de um mundo que se globaliza graças ao desenvolvimento das forças produtivas; de um mundo no qual o capitalismo assume o controle global e chega ao ponto de não retorno, que permite às forças produtivas subverter o estado presente das coisas. A com- petitividade e a necessidade de acumulação do capital “obrigam a humanidade à produção pela produção, impelindo-a, por- tanto, a um desenvolvimento das forças produtivas sociais e à 44 K. Marx, Manoscritti economico-filosofici del 1844, Turim, Einaudi, 1980, p. 137. 128