Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 128

Maria Rosaria Manieri ocultos sob falsa universalidade. “Nenhum dos chamados direitos do homem, portanto, ultrapassa o homem egoísta, o homem como membro da sociedade civil, isto é, o indivíduo vol- tado para si mesmo, para seu interesse privado e seu arbítrio pri- vado, e isolado da comunidade. Bem longe de ser o homem entendido como espécie, a própria vida da espécie, a sociedade, aparece antes como uma moldura externa aos indivíduos, como limitação de sua independência originária”. 38 A emancipação burguesa é limitada porque só na esfera jurídica e política todo homem é igual aos outros, não no âmbito real da vida econômica e social. Quando o homem reabsorver o abstrato citoyen em si, em sua vida empírica, tornando-se membro da espécie humana, em que todos os homens são iguais como tais, então a emancipação humana será efetivada. Até então, e enquanto a liberdade e a igualdade restarem abstratos princípios políticos, a fraternidade será só uma frase. Marx não diz o que se deve entender por este princípio, mas com base em seus escritos é possível delinear o que, para ele, a fraternidade antes de mais nada não é. Ela não é nem pretende ser uma enésima forma de “canoni- zação do mundo”, um princípio ascético de “santidade”, “porque os comunistas não propugnam o egoísmo contra a abnegação ou a abnegação contra o egoísmo, e não aceitam teoricamente esta oposição nem na forma doméstica nem na ideológica e extrava- gante, mas, antes, demonstram sua origem material, junto com a qual ela desaparece por si só”. 39 A questão sobre se os homens são naturalmente egoístas ou penetrados pelo espírito de abnegação é inteiramente secundária e só se reveste de algum interesse se referida a indivíduos deter- 38 Marx, Sulla questione ebraica, cit., p. 145. 39 K. Marx e F. Engels, Ideologia tedesca, Roma, Riuniti, 1977, p. 229. 126