Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 127
Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo
A universalidade do Estado é ilusória. A ela se contrapõe o
particularismo concreto da sociedade civil. A universalidade da
troca nada mais é do que a ampliação máxima de uma relação
através da qual indivíduos “indiferentes a todas as suas ulte-
riores particularidades individuais”, em concorrência e em iso-
lamento recíproco, desenvolvem sua socialidade de forma alie-
nada; só se colocam “um para o outro tendo em vista a realização
de seus interesses particulares”. 35
No sistema capitalista o nexo social é expresso pelo mer-
cado, que pressupõe a independência e a indiferença recíproca
dos indivíduos. O poder que cada qual exerce sobre a atividade
dos outros, ele o possui como proprietário de valores de troca,
de dinheiro: “Cada um carrega no bolso seu poder social, assim
como seu nexo com a sociedade”. 36 No entanto, por mais cru que
possa parecer, o nexo material entre os homens – afirma Marx
– é “preferível à falta de nexo ou a um nexo só local baseado nas
relações naturais de consanguinidade ou de senhoria e ser-
vidão”. Mas é “absurdo pensar aquele nexo apenas material
como natural, inseparável da natureza da individualidade (em
antítese ao saber e ao querer reflexivos) e a ela imanente. Ao con-
trário, ele é [...] um produto histórico”. 37
É com a Revolução Francesa que a sociedade civil se liberta
da feudalidade e adquire uma autonomia jamais conhecida
antes. A Revolução Francesa foi uma revolução burguesa que
cancelou positivamente os velhos componentes feudais, mas o
fez em defesa dos interesses da burguesia, elevados ideologica-
mente a interesses gerais.
O homem sujeito de direitos é o indivíduo privado da socie-
dade civil burguesa, caracterizado por interesses particulares
35 K. Marx, Scritti politici giovanili, Turim, Einaudi, 1975, p. 377.
36 Marx, Lineamenti per la critica dell’economia politica, cit., p. 97.
37 Idem, p. 104.
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