Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 122

Maria Rosaria Manieri O auge deste processo ocorre com o capitalismo, quando se consuma a divisão entre capital e trabalho, entre os trabalha- dores assalariados, reduzidos a nada mais do que força de tra- balho, e a propriedade dos meios de produção. Os homens não mais produzem bens para a satisfação direta de suas necessi- dades, mas mercadorias para a troca. O mercado e a acumulação se tornam os fins primários da produção. O sábado não existe mais para o homem, mas o homem para o sábado: a produção se apresenta como o escopo do homem e a riqueza como o escopo da produção. “Mas o que é a riqueza – pergunta-se Marx – senão a universalidade de carecimentos, capacidades, consumos, forças produtivas etc., dos indivíduos criada no intercâmbio universal? O que é senão o pleno desenvolvimento do domínio do homem sobre as forças da natureza, seja da chamada ‘natu- reza’, seja da própria natureza? O que é senão a manifestação absoluta de seus dotes criativos, sem nenhum outro pressuposto além do desenvolvimento histórico precedente, a qual torna fim em si mesma aquela totalidade do desenvolvimento, isto é, do desenvolvimento de todas as forças humanas como tais, não medidas por um metro já dado?”. 25 Na forma capitalista este processo de manifestação universal da natureza interna do homem aparece como alienação total. Daí o caráter paradoxal e intrinsecamente contraditório do desenvol- vimento capitalista. Ele representa, em relação às épocas histó- ricas precedentes, o ponto mais alto do processo de individuali- zação humana e o máximo desenvolvimento da socialidade dos indivíduos, mas também sua alienação e cristalização numa dia- lética econômica distorcida, dominada pelo mercado. Ao mesmo tempo que ativa e expande a riqueza, criando um nível social “em relação ao qual todos aqueles precedentes 25 Idem, p. 11. 120