Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 109
Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo
falta de conformidade de nosso modo de agir com os princípios
éticos”, abre espaço para a ação reformadora do homem para
melhor. Esta cessa quando prevalece o pedantismo realista, o
qual considera que a política constitui “toda a sabedoria prática”
e que “a ideia do direito é vazia de sentido”.
“Portanto, não existe objetivamente (na teoria) – afirma
Kant – nenhum conflito entre a moral e a política. Ao contrário,
subjetivamente (na tendência egoísta dos homens, que, no
entanto, por não ser baseada em máximas racionais, não deve
ainda ser chamada práxis), tal conflito permanecerá e é bom que
permaneça sempre”. 67
É neste conflito que se baseia o pedantismo típico de quem,
em nome do conhecimento fenomênico da natureza humana,
sustenta “sofisticamente” a impossibilidade de seguir o princípio
da justiça, impedindo qualquer movimento para a realização da
fraternidade como princípio regulador da vida civil.
O pedantismo é a característica do moralista político, para
o qual a moral é simples teoria. Ele assenta sua desconsolada
renúncia “a nossa ingênua esperança (ainda que fazendo uma
concessão no tocante ao dever e ao poder) propriamente no fato
de que pretende prever, com base na natureza do homem, que
este não irá querer nunca o que é exigido para realizar o obje-
tivo que conduz à paz perpétua”. Contra ele ergue-se o político
moral, para quem a convivência civil, a organização e a coesão
social não são apenas um problema técnico, próprio da pru-
dência política e capaz de demandar unicamente um amplo
conhecimento da natureza humana para utilizar seu meca-
nismo com vistas ao fim proposto, mas são, também e sobre-
tudo, dever ético, que fundamenta a esperança da instituição
de “uma constituição civil perfeitamente justa”, e considera
67 Kant, Per la pace perpetua, cit., p. 197.
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