Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 108

Maria Rosaria Manieri porque o mundo é o lugar da ação razoável, do encontro entre moral e política, o mundo da história, de nossa história: o único no qual sentido e fato coincidem, e devem fazê-lo, se queremos compreendê-lo, isto é, se deve ter um sentido para nós”. 62 O homem pode deixar de se propor o problema da moral; pode, se quiser, acomodar-se à dimensão puramente empírica e fenomênica, permanecer “na classe das outras máquinas vivas”. 63 Mas, caso se propuser este problema, não poderá fazê-lo senão em relação à comunidade dos indivíduos humanos, com sua ação razoável, histórica. O dever moral de se organizar segundo a ideia de uma comunidade de seres autônomos não tem solução no existente; todavia, só a partir do existente, através da dinâmica da socie- dade (que produz), do Estado (que decide), da organização mun- dial (que busca e mantém os vários equilíbrios), deve-se poder mobilizar um valor, que não poderá deixar de transcendê-los: “Através da moral ou, de todo modo, no contexto da moral (Kant, de fato, reconhece uma só moral, a individual), com a mediação da história e de seu sentido (moral), a filosofia (crítica) descobre a política como seu problema interno”. 64 Certamente, entre o “dizer” da ética e o “fazer” da política estende-se o mar, e neste mar tomam corpo e se alimentam as formas novas do farisaísmo moderno. 65 Apesar disso, é justa- mente a distância entre a realidade política e a idealidade da ética que, se por um lado “derruba nossa presunção” 66 de chegar a uma sociedade perfeita, por outro, fazendo-nos “perceber a 62 L. Sichirollo, Morale e morali, Roma, Riuniti, 1985, p. 54. 63 Kant, Per la pace perpetua, cit., p. 196. 64 Sichirollo, Morale e morali, cit., p. 51. 65 C. Luporini, Kant e il materialismo moderno, in idem Filosofi vecchi e nuovi, Roma, Riuniti, 1981, p. 121. 66 Kant, Critica della ragion pratica, cit., p. 163. 106