Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 107

Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo da sensibilidade e da particularidade. Ao contrário, é justamente o corajoso reconhecimento do peso que tem, tanto na convi- vência social quanto na de cada homem, agora um ser emanci- pado historicamente e não mais paternalisticamente vinculado, a luta entre os interesses e os impulsos egoístas, por uma parte, e os imperativos da racionalidade, por outra, que faz a lei kantiana assumir aquela face de dragão diante da qual fogem aterrori- zadas as Graças. 61 As almas belas, romanticamente teorizadas por Schiller, se é que houve um tempo no qual foram desta terra, não povoam o mundo moderno nem há qualquer razoável esperança de que o povoem num futuro em que a humanidade, feita de outro barro, realizará a perfeita coincidência da máxima com a lei. Isto significa que o risco moral, dado pela distância que sempre se abre entre ser e dever ser, é próprio da história do homem e de sua liberdade. Querer negá-lo significa fechar os olhos à realidade. Querer eliminá-lo é pretender ir além do homem e de sua história, realizar um salto da vontade boa para a vontade santa, da busca de um mundo melhor para outro per- feito, que não está nas possibilidades do homem, mas só de Deus. A ética não indica ideais vãos e irrealizáveis, mas uma ordem racional que, longe de representar uma zona de evasão da história e da realidade social, constitui um termo de compa- ração e exame de todo instituto histórico do direito e da moral, “um critério racional de avaliação de toda e qualquer possível constituição jurídica pública