Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo FRATERNIDADE_MANIERI | Page 103

Fraternidade. Releitura civil de uma ideia que pode mudar o mundo Na personalidade reside a origem do valor do homem, de todos os homens como seres racionais, fins em si mesmos, sujeitos de direitos invioláveis e sacrossantos, e nela se encerra a verdadeira igualdade dos homens, que é, sobretudo e antes de mais nada, igualdade em dignidade, em virtude de sua auto- nomia e liberdade. A generalidade da lei moral, que coloca como dever recí- proco o reconhecimento do direito à liberdade, junto com a ideia da personalidade, que existe em cada homem, são os pontos car- deais do “reino da razão pura prática e de sua justiça”. A justiça indica a ideia de uma organização dos seres humanos sob leis comuns. Ela é a ideia reguladora de uma comunidade de seres autônomos e de sua constituição num “reino dos fins”. Nasce daí, para Kant, a prioridade da justiça sobre o bem; antes, da justiça como sumo bem, cuja busca se impõe com a força e a eficácia de uma lei incondicionada. A justiça, e não a felicidade, é o objeto da moral. Só a justiça é um dever, porque “as normas a seguir para ser feliz ou, pelo menos, para evitar o próprio dano, não são manda- mentos; não obrigam ninguém de modo absoluto; e o homem pode, depois de ter sido advertido, escolher o que lhe parece bom se estiver disposto a suportar plenamente a consequência. Ele não tem motivo para considerar os males que lhe podem advir por não seguir o conselho recebido como castigos, porque só atingem a vontade livre mas em conflito com a lei; no entanto, a natureza e as tendências não podem ditar leis à liberdade. Coisa inteiramente diferente é se se trata da ideia do dever, cuja violação, mesmo abstraindo os danos que podem advir, opera diretamente sobre o ânimo e torna o homem desprezível a si mesmo e merecedor de pena”. 54 54 Kant, Sopra il detto comune, cit., p. 252. 101